18.04.2013 Views

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Carlos sentou-se, e refletiu durante muito tempo; o médico procurava um<br />

remédio para o seu doente; e o doente tinha medo daquele médico, que sempre se<br />

havia oposto ao seu amor.<br />

No fim <strong>de</strong> meia hora, Carlos chegou-se para junto do amigo, e tocando-lhe no<br />

ombro, disse:<br />

– Sê homem.<br />

Henrique levantou a cabeça.<br />

– Tenho pensado bem, continuou aquele; não vejo razão para tão gran<strong>de</strong> dor.<br />

– Como? perguntou Henrique.<br />

– A bela viúva te ama.<br />

O mancebo suspirou, e disse:<br />

– E aquele homem?...<br />

– É um vil... <strong>de</strong>spreza-o...<br />

– Era só isso o que tinhas para me dizer?...<br />

– Não.<br />

– Que mais então?<br />

– Cumpre que tudo isto tenha um termo; e quanto mais cedo, melhor.<br />

– Que <strong>de</strong>vo fazer?... eu não sei nada... <strong>de</strong>svairo e choro.<br />

– Pois bem: irás ao “Céu cor-<strong>de</strong>-rosa”.<br />

– Quando?...<br />

– Hoje não; estás agitado <strong>de</strong>mais. Irás ao primeiro serão.<br />

– E <strong>de</strong>pois?...<br />

– Terás uma conferência com tua amada, e positivamente oferecer-lhe-ás a tua<br />

mão.<br />

– E finalmente?... exclamou Henrique.<br />

– Pedi-la-ás em casamento ao velho Anacleto.<br />

– Tu mo aconselhas?... – bradou o amante abraçando com força a Carlos – tu<br />

mo aconselhas?...<br />

– Sim! sim! respon<strong>de</strong>u este.<br />

E <strong>de</strong>pois continuou falando consigo mesmo:<br />

– Dos males o menor.<br />

<strong>CAPÍTULO</strong> XXII<br />

UM SERÃO SEM ELE<br />

SE O OLHAR do observador pu<strong>de</strong>sse chegar ao fundo do coração humano,<br />

esquadrinhar todos os seus escaninhos, arrasar seus segredos mais ocultos, ler nele<br />

como em um livro; teria, é verda<strong>de</strong>, muito <strong>de</strong> que horrorizar-se, muito <strong>de</strong> que<br />

espantar-se com a hipocrisia e malva<strong>de</strong>za da humanida<strong>de</strong>; em compensação porém<br />

acharia um encanto indizível, examinando o coração <strong>de</strong> uma moça que começa a<br />

amar pela primeira vez.<br />

Porque, se doçura imensa se goza já nessas rápidas e passageiras<br />

118

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!