OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
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alguma; o que me parece é que d. Mariquinhas está doida por uma contradança.<br />
– Lá isso também é verda<strong>de</strong>...<br />
– Pois é fácil satisfazer seus <strong>de</strong>sejos; eu vou tocar.<br />
O moço dirigiu-se ao piano.<br />
– Ah! d. Mariquinhas! tornou Felícia; você sempre está com disposição para<br />
gracejar!...<br />
– Mas agora não foi gracejo, foi cálculo. Eu queria dançar. Olhe, está vendo<br />
aquele moço <strong>de</strong> óculos ver<strong>de</strong>s?... pediu-me uma contradança no último serão e <strong>de</strong>vo<br />
pagar-lha neste...<br />
– Como anda você tão adiantada!...<br />
– Qual! pelo contrário, atrasada... estou carregada <strong>de</strong> dívidas... em três bailes<br />
não pago o que <strong>de</strong>vo.<br />
– Bom, lá se tocam os compassos <strong>de</strong> prevenção... d. Leocádia já está bulindo<br />
na ca<strong>de</strong>ira... que maldito costume tem aquela moça!<br />
– Coitada... é com razão. O exercício... o movimento a torna um pouco menos<br />
amarela.<br />
As moças foram interrompidas por alguns cavalheiros que a elas se chegaram<br />
pedindo contradanças.<br />
Mariana acabava <strong>de</strong> aproximar-se <strong>de</strong> uma janela. Salustiano foi ter com ela.<br />
– Uma contradança... a que se vai dançar, minha senhora...<br />
– Esta não é possível, já tenho par.<br />
– A seguinte?...<br />
– Também já a prometi.<br />
– Ao mesmo cavalheiro da primeira, sem dúvida... disse sorrindo Salustiano.<br />
– É verda<strong>de</strong>, respon<strong>de</strong>u Mariana sem hesitar.<br />
– O sr. Henrique?...<br />
– Ele mesmo.<br />
– Bem, tornou Salustiano mudando <strong>de</strong> tom: hei <strong>de</strong> logo pedir-lhe um obséquio<br />
<strong>de</strong> outra or<strong>de</strong>m.<br />
Henrique veio dar a mão a Mariana, lançando um olhar <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezo a<br />
Salustiano, que o pagou com seu costumeiro sorrir sarcástico.<br />
Salustiano passou ainda pelo <strong>de</strong>sgosto <strong>de</strong> achar Celina engajada para lª, 2ª e 3ª<br />
contradanças; eram tantas quantas se costumavam dançar em cada serão.<br />
A dança começou. Cândido não se tinha levantado, e conversava então com a<br />
velha Irias.<br />
Anacleto chegou-se a eles.<br />
– Que faz aqui, sentado e triste como um velho <strong>de</strong> setenta anos, este moço que<br />
não tem mais <strong>de</strong> vinte?...<br />
– Estava repreen<strong>de</strong>ndo-o por isso, respon<strong>de</strong>u Irias. É uma cabeça cheia <strong>de</strong><br />
teias <strong>de</strong> aranha; sabe cantar, e não se <strong>de</strong>ixa ouvir; dança com graça, e o estamos<br />
vendo sentado.<br />
– Pois ele canta?...<br />
– Não o sabia, sr. Anacleto?...<br />
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