OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
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consigo a tem no coração.<br />
Oh! eu já <strong>de</strong>spertei a um belo grito; gritaram-me – ele te ama!... – pois eu<br />
<strong>de</strong>veria tê-lo adivinhado.<br />
Sim! oh! sim!... eu <strong>de</strong>vo crer que me ama. Por que também ele cora quando<br />
encontra meus olhos? por que também treme quando me fala?<br />
Eu revolvo na minha alma quanto se tem passado entre ele e mim, como a<br />
mão <strong>de</strong> uma menina revolve buliçosa uma cesta cheia <strong>de</strong> flores.<br />
Recor<strong>de</strong>mos...<br />
Uma noite... que noite! dançamos juntos... fui o seu par... nossas mãos<br />
tremeram... quisemos falar e não dissemos nada... ah! parece que fazendo assim é<br />
que nós dissemos tudo!...<br />
Depois fui com duas amigas para meu quarto; contei-lhes a história do sonho<br />
do – botão <strong>de</strong> rosa: – ninguém me <strong>de</strong>via ouvir senão elas.<br />
Em uma das tar<strong>de</strong>s seguintes veio o velho guarda-portão dar-me a sua hora <strong>de</strong><br />
música. Cantou um romance; esse romance era a história do meu sonho... a história<br />
do botão <strong>de</strong> rosa. Quem escreveu estes versos? perguntei eu. Foi o sr. Cândido;<br />
respon<strong>de</strong>u o velho Rodrigues.<br />
Cheguei a crer que um gênio invisível velava em prol <strong>de</strong>sse terno sentimento<br />
que nascia...<br />
Fomos ao Passeio Público. Passeávamos juntos e sós eu e ele. Estávamos<br />
ambos tão perturbados!... éramos como dois criminosos; ouvi que alguém dizia –<br />
são dois namorados: – quase que morri <strong>de</strong> vergonha.<br />
Oh! não é possível encobrir mais... não é possível..... a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve-se dizer.<br />
A flor que existia em botão <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> minha alma abriu-se ao terno sopro<br />
<strong>de</strong>sse mancebo; eu o amo!<br />
Ainda não lhe disse, não serei capaz <strong>de</strong> dizer-lhe que o amo; já porém jurei a<br />
mim mesma que hei <strong>de</strong> amá-lo toda a minha vida.<br />
Oh! sim! eu confesso... eu o amo.<br />
Abençoem lá da eternida<strong>de</strong> meus pais o amor <strong>de</strong>stes dois corações, que a<br />
primeira vez que se encontraram nesta vida foi <strong>de</strong> joelhos ao pé <strong>de</strong> seu túmulo.<br />
Abençoem!...<br />
Proteja o Senhor Deus estes dois corações que, antes <strong>de</strong> se acharem unidos<br />
pelos laços <strong>de</strong> um amor puro e santo, já se haviam i<strong>de</strong>ntificado em oração, e caído<br />
juntos aos pés do Onipotente ligados pela mesma fé, pela mesma esperança e pelo<br />
mesmo pensamento.<br />
Oh! sim! proteja.<br />
Mas por que motivo ele, a quem eu amo, ele que me ama, foge <strong>de</strong> meu<br />
lado?... por que me não fala?... por que continua a mostrar-se tão triste como<br />
dantes?...<br />
Eu <strong>de</strong>vo então ser bem infeliz, pois que ele não po<strong>de</strong> mais ignorar que eu o<br />
amo, e todavia sua tristeza é sempre a mesma, sempre incurável.<br />
E no entanto esse outro que me <strong>de</strong>sagrada tanto quanto ele me é grato, esse<br />
outro impertinente e ousado não me <strong>de</strong>ixa um instante, e ousa falar-me <strong>de</strong> amor<br />
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