OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
alto.<br />
– “História do meu amor”, disse esta lendo; ah! eu tinha adivinhado o título.<br />
– Peço-te que leias para ti só; eu me envergonharia muito se te ouvisse ler<br />
Mariquinhas começou a leitura da história do amor <strong>de</strong> Celina.<br />
A “Bela Órfã” acompanhava com os olhos todos os movimentos, todas as<br />
impressões que aquela leitura produzia em sua amiga, corando se esta sorria,<br />
animando-se, tremendo, e confundindo-se segundo as expressões fisionômicas da<br />
leitora.<br />
Quando Celina viu que os olhos <strong>de</strong> Mariquinhas volviam-se correndo pelas<br />
últimas linhas da <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira página, abaixou <strong>de</strong> novo a cabeça, envergonhada e<br />
confusa.<br />
– Bravo, d. Celina! estás em bom caminho para romancista; mas repara que<br />
não po<strong>de</strong>s aproveitar muito no nosso país.<br />
– Não zombes.<br />
– Falo séria; porém, dize que <strong>de</strong>stino preten<strong>de</strong>s que tenham estes papéis?...<br />
– Que <strong>de</strong>stino?... o fogo.<br />
– O fogo?!<br />
– Sim; queimá-los-ei, respon<strong>de</strong>u soltando um suspiro a “Bela Órfã”.<br />
– Não; não cometerás um parricídio. Quando tua mão se erguer para lançá-los<br />
às chamas, tua alma, eu o juro, cantará os versos <strong>de</strong> Torquato: “Ah! não seria<br />
possível”.<br />
– Pois então que po<strong>de</strong>ria eu fazer <strong>de</strong>les?...<br />
– Quem sabe?... estes papéis guardam-se. É possível que cheguem um dia às<br />
mãos do feliz mancebo que te moveu a escrevê-los.<br />
– Oh! Deus me livre!...<br />
As duas moças calaram-se <strong>de</strong> repente, sentindo que alguém subia a escada.<br />
Celina guardou os papéis na gaveta don<strong>de</strong> os tinha tirado.<br />
Apareceu uma escrava à porta do quarto.<br />
– O que é?... perguntou Celina.<br />
– O sr. Salustiano, respon<strong>de</strong>u a escrava.<br />
– Dize-lhe que meu avô e minha tia saíram, respon<strong>de</strong>u “Bela Órfã”.<br />
– Mas que nós <strong>de</strong>scemos já para recebê-lo, acrescentou Mariquinhas.<br />
– Não!<br />
– Sim! vai: dize-lhe que o vamos já receber.<br />
A escrava <strong>de</strong>sceu.<br />
– Que queres fazer, d. Mariquinhas?...<br />
– Conversar, divertir-me.<br />
– Oh! porém tu me comprometes; este homem é um maldito impertinente...<br />
– Melhor.<br />
– Requesta-me... diz-me loucuras.<br />
– Ótimo.<br />
– Eu o aborreço.<br />
– Por isso mesmo.<br />
154