18.04.2013 Views

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Enquanto as duas folhas <strong>de</strong> papel ardiam, Salustiano olhava para as chamas<br />

com a estupi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> um idiota, e Cândido com o sorrir <strong>de</strong> um anjo.<br />

Só restavam cinzas... Mariana lançou-se com entusiasmo sobre Cândido.<br />

– Meu filho!<br />

Cândido recebeu-a <strong>de</strong> joelhos.<br />

– Agora eu! disse uma voz.<br />

Todos olharam: era João que acabava <strong>de</strong> entrar na sala.<br />

– Que é isto?...<br />

– É a vingança! bradou <strong>de</strong>.<br />

Salustiano <strong>de</strong>ixou-se cair aterrado sobre uma ca<strong>de</strong>ira.<br />

– Falsário!... falsário!... exclamou João sacudindo o processo subtraído a Jacó,<br />

diante dos olhos <strong>de</strong> Salustiano. Falsário! falsário! eis aqui a vingança!...<br />

– O que quer dizer isto? perguntou Cândido a Rodrigues.<br />

Breves palavras do velho explicaram tudo.<br />

Cândido avançou para João.<br />

– Meu bom amigo, eu sou o filho <strong>de</strong> Leandro, eu sou o her<strong>de</strong>iro da amiza<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> cem anos.<br />

A voz do moço era doce e tão terna, como foi o olhar que João lançou sobre<br />

ele.<br />

– Em nome <strong>de</strong> meu pai, em nome da sagrada amiza<strong>de</strong> que doravante há <strong>de</strong><br />

ligar-nos até a morte, João, meu amigo, dá-me esse processo!...<br />

João ficou imóvel, arrasaram-se-lhe os olhos d’água.<br />

Cândido esten<strong>de</strong>u o braço e tirou-lhe o processo das mãos... sem que o velho<br />

fizesse a menor resistência.<br />

– Por mais que queiras, João, disse Rodrigues comovido...? tu não po<strong>de</strong>s ser<br />

mau...<br />

Cândido tinha-se chegado outra vez junto da luz, e queimava o processo.<br />

– É meu irmão, disse <strong>de</strong> soluçando.<br />

CONCLUSÃO<br />

A FELICIDADE e o prazer estavam sorrindo <strong>de</strong> mil modos no “Céu cor-<strong>de</strong>rosa”.<br />

Cândido freqüentava <strong>de</strong> novo e mais assiduamente que nunca a casa <strong>de</strong><br />

Anacleto; dirigindo-se a Mariana, tratava-a por – minha senhora; – mas sua voz<br />

tinha um tom <strong>de</strong> indizível ternura.<br />

Mariana estava bela e <strong>de</strong>slumbradora como em seus primeiros dias <strong>de</strong><br />

ventura; chamava o mancebo como dantes – sr. Cândido, – porém seus olhos<br />

ar<strong>de</strong>ntes e amorosos lhe davam ao mesmo tempo o mais carinhoso dos nomes.<br />

Anacleto não podia compreen<strong>de</strong>r aquela metamorfose; mas respeitava o<br />

segredo da felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua filha, tanto quanto havia respeitado outrora o <strong>de</strong> seus<br />

tormentos.<br />

247

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!