18.04.2013 Views

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

me mil vezes mais bela!... porque eu amo... muito... muito... tanto, que seria capaz<br />

<strong>de</strong> dar a vida por ele, e capaz <strong>de</strong> matar a mulher que se atrevesse a amá-lo!<br />

A “Bela Órfã”, ingênua, inocente, sem ter jamais experimentado esses<br />

sentimentos <strong>de</strong>sabridos e perigosos, que fazem falar com a veemência com que<br />

falava Mariana, olhava para esta, atônita e sem se atrever a pronunciar uma só<br />

palavra.<br />

E também a viúva aprazia-se daquele silêncio. Quem ama e fala do seu amor,<br />

estima não ser interrompido, gosta <strong>de</strong> discorrer horas inteiras repetindo mesmo o<br />

que já disse mil vezes, e começando <strong>de</strong> novo a história que exatamente acaba <strong>de</strong><br />

contar.<br />

Finalmente Mariana sentiu que já tinha .o coração mais leve, ergueu-se, e<br />

abraçando ainda Celina exclamava:<br />

– Eu sou feliz! imensamente feliz!...<br />

Quando um escravo apareceu à porta da sala, e anunciou o sr. Henrique,<br />

Mariana <strong>de</strong>ixou-se cair <strong>de</strong> novo no sofá; e foi só <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> alguns instantes que disse<br />

com voz muito trêmula e comovida:<br />

– Que entre.<br />

Levantou-se a custo para receber o antigo amante.<br />

Era um homem alto e belo; seus olhos pretos lançavam olhares brandos que<br />

condiziam perfeitamente com o sorrir meigo e um pouco melancólico <strong>de</strong> seus lábios.<br />

Tudo nele era nobre e sério; tudo nele <strong>de</strong>safiava simpatia: bem feito, trajando com<br />

gosto, mas sem extremar-se em modas; era enfim um belo, homem; um cavalheiro<br />

completo.<br />

Entrou perturbado e trêmulo, como estava Mariana.<br />

Depois dos primeiros cumprimentos, disse com visível comoção:<br />

– Cheguei ontem, senhora, e meu primeiro cuidado foi correr a <strong>de</strong>positar<br />

meus respeitos aos pés da viúva do meu melhor amigo.<br />

– Obrigada, senhor, respon<strong>de</strong>u Mariana a tremer; é muito lisonjeiro para mim,<br />

que me coubesse aqui o seu primeiro cuidado. Vejo que se não esqueceu <strong>de</strong> nós...<br />

– Oh!... nunca!... exclamou o mancebo animando-se.<br />

– E também nós, senhor, nunca!...<br />

Sem se po<strong>de</strong>r explicar a razão, Celina sentou-se por seu turno perturbada,<br />

começou a corar muito e conheceu que não podia ficar ali mais tempo.<br />

Aquela cena <strong>de</strong> amor como que ofendia sua inocência <strong>de</strong> virgem. Ela ergueuse<br />

e disse a Mariana:<br />

– Devo mandar participar a meu avô a visita do senhor?...<br />

– Sim, murmurou a viúva.<br />

Celina <strong>de</strong>ixou a sala.<br />

Henrique e Mariana ficaram a sós por cinco minutos. Mariana não era mais<br />

uma senhora casada.<br />

Quando, no fim dos cinco minutos, entrou na sala o avô da “Bela Órfã”,<br />

Mariana já sabia que três anos <strong>de</strong> ausência não tinham podido arrefecer a paixão<br />

ar<strong>de</strong>nte que lhe votava Henrique.<br />

19

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!