OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
– Em uma palavra e para acabar <strong>de</strong> todo com estas questões, o senhor quanto<br />
quer receber <strong>de</strong> uma vez por esse processo?...<br />
– Ce<strong>de</strong>ndo-lhe todo o direito que tenho a ele?<br />
– Por certo.<br />
– Chama-se a isso queimar a minha fortuna, disse sossegadamente o exescrivão.<br />
– Enfim...<br />
– Enfim... dar-lhe-ei esses papéis com a mão direita, exatamente no momento<br />
em que V. Sa. me <strong>de</strong>positar na esquerda uma quantia igual à que me <strong>de</strong>u o senhor<br />
seu pai.<br />
– Quatro contos <strong>de</strong> réis! é muito!<br />
– Então não temos nada feito. Conservarei o processo.<br />
– Oh! mas é preciso acabar com isto; quando volta o senhor aqui?<br />
– Já disse que dou gran<strong>de</strong> importância aos dias <strong>de</strong> aparecer: <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> amanhã<br />
virei receber as suas or<strong>de</strong>ns.<br />
– Traga-me o processo.<br />
– Dar-me-á os quatro contos? Sim.<br />
– Palavra <strong>de</strong> honra?<br />
– Sim.<br />
– Bem. Às or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> V. Sa.<br />
– Até <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> amanhã.<br />
– Mas ah! disse Jacó suspen<strong>de</strong>ndo-se, pois que já ia saindo, falta ainda alguma<br />
coisa.<br />
– O quê? perguntou Salustiano.<br />
– Os cem mil-réis.<br />
– Ainda!<br />
– São juros vencidos; a satisfação do principal é conta à parte.<br />
– Depois <strong>de</strong> amanhã...<br />
– Perdoe-me V. Sa., mas eu preciso hoje <strong>de</strong>ssa quantia.<br />
Salustiano arremessou-se para <strong>de</strong>ntro do seu quarto; Jacó esten<strong>de</strong>u o pescoço,<br />
e viu o mancebo abrir uma carteira <strong>de</strong> jacarandá já meio usada, e tirar <strong>de</strong>la alguns<br />
bilhetes.<br />
Salustiano, na agitação em que estava, <strong>de</strong>ixou a chave na carteira, e voltou ao<br />
gabinete com o dinheiro.<br />
– Eis aqui os cem mil-réis, disse ele entregando os bilhetes a Jacó.<br />
O ex-escrivão, apenas recebeu o dinheiro, tomou o chapéu, fez uma profunda<br />
cortesia ao moço, e foi saindo.<br />
Salustiano o seguiu <strong>de</strong> perto, e <strong>de</strong>sceu com ele as escadas.<br />
Pouco <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> haverem os dois <strong>de</strong>ixado o gabinete, entrou João.<br />
O velho ia sentar-se na ca<strong>de</strong>ira que pouco antes havia ocupado, quando notou<br />
que a porta do quarto <strong>de</strong> Salustiano estava aberta.<br />
Dirigiu-se imediatamente para o quarto, e apenas chegou ao limiar da porta,<br />
soltou uma exclamação:<br />
201