18.04.2013 Views

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A porta da sala abriu-se.<br />

Apareceu o velho Rodrigues.<br />

<strong>CAPÍTULO</strong> XLIII<br />

MARIANA E RODRIGUES<br />

MARIANA, com os cabelos eriçados e os braços esten<strong>de</strong>didos para diante,<br />

recuou espavorida, como se lhe tivesse aparecido um espectro.<br />

O velho Rodrigues entrou vagaroso e sossegado.<br />

– Quem é?... perguntou a viúva aterrada. Quem é o senhor?<br />

– Sou o guarda-portão do “Céu cor-<strong>de</strong>-rosa”, senhora.<br />

– E ouviu tudo?... balbuciou a mísera.<br />

– Não, respon<strong>de</strong>u o velho. Eu não precisava ouvir nada. Des<strong>de</strong> vinte e um<br />

anos que eu sei tudo.<br />

Mariana <strong>de</strong>ixou-se cair quase <strong>de</strong>sfalecida sobre o sofá.<br />

Rodrigues vivamente comovido aproximou-se da infeliz mulher, e repetiu:<br />

– Eu sei tudo,<br />

A viúva sacudiu dolorosamente a cabeça, e murmurou<br />

– Não... não... é impossível!<br />

O velho, em pé diante <strong>de</strong> Mariana, <strong>de</strong>scansou a mão sobre o encosto da<br />

ca<strong>de</strong>ira e disse:<br />

– Mulher! tens sofrido muito.<br />

– Oh! sim!...<br />

– Vaidosa, tu és ferida na tua vaida<strong>de</strong>.<br />

– Oh!... sim!...<br />

– Rainha, tu te tornaste escrava.<br />

– Oh!... sim!..<br />

– Caráter forte, intrépido, e até insolente, tu te rebaixas hoje, tu te revolves no<br />

pó, tu tremes <strong>de</strong> palavras que se dizem em segredo.<br />

– É verda<strong>de</strong>!<br />

– Mulher <strong>de</strong>stemida, tu és hoje a mais covar<strong>de</strong> entre todas.<br />

– É certo.<br />

– Tão covar<strong>de</strong> que te queres <strong>de</strong>spojar da vida!...<br />

– Oh!...<br />

– Cristã, tu olvidas as leis <strong>de</strong> Cristo!<br />

– Oh!...<br />

– Aí, no teu seio, tu escon<strong>de</strong>s um instrumento <strong>de</strong> morte.<br />

– Senhor!...<br />

– Eu tinha os olhos sobre ti, mulher; eu vi tudo. E sabes o que te acovarda?...<br />

sabes o que te leva ao <strong>de</strong>sespero? sabes o que te empurra para o túmulo? oh! tu o<br />

sabes, tu o sentes... é a consciência do crime.<br />

– Meu Deus!..<br />

236

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!