OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
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Henrique torceu as mãos apaixonadamente, e disse:<br />
– Ah! senhora! eu quisera sentar-me em um trono para lhe dar meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>le...<br />
eu tremeria menos assim, porque o esplendor do meu dia<strong>de</strong>ma <strong>de</strong>slumbraria àqueles<br />
que ousassem erguer os olhos para aquela que se sentasse a meu lado!<br />
– E eu, pelo contrário, respon<strong>de</strong>u a viúva com seu encantador sorriso, quisera<br />
vê-lo no fundo <strong>de</strong> um horrível abismo para <strong>de</strong>scer até lá, e ir viver <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> seus<br />
olhos; eu então não tremeria nunca... porque nenhuma mulher quereria <strong>de</strong>scer como<br />
eu e esquecer o mundo pelo abismo.<br />
O piano tocou nesse momento os primeiros compassos <strong>de</strong> uma valsa.<br />
– Chamam-nos! disse Mariana.<br />
– Sim... chamam-nos... mas com suas belas palavras ficou esquecido o fim<br />
principal <strong>de</strong> nossa conversação! Sereia encantadora que o homem não <strong>de</strong>ve ouvir<br />
para se não per<strong>de</strong>r!...<br />
– Ah! porém eu compreendi tudo.<br />
– Tudo?... talvez; porém não respon<strong>de</strong>u nada.<br />
– Eis a minha resposta, disse a viúva.<br />
E oferecendo a Henrique sua mão direita, acrescentou, abaixando os olhos e<br />
com voz comovida:<br />
– Ei-la aqui.<br />
O mancebo apertou aquela mão <strong>de</strong>licada e bela com ardor e entusiasmo, e<br />
com os olhos úmidos <strong>de</strong> lágrimas <strong>de</strong> prazer, disse:<br />
– Amanhã virei pedi-la a seu pai!<br />
– Venha... eu o espero, respon<strong>de</strong>u a viúva.<br />
Os dois entraram na sala ébrios <strong>de</strong> alegria e <strong>de</strong> amor.<br />
A música viva e animadora <strong>de</strong> Strauss tinha feito voltar à sala mais alguém,<br />
que <strong>de</strong>la estava ausente.<br />
Pouco tempo <strong>de</strong>pois que Celina havia subido para seu quarto, <strong>de</strong>u<br />
Mariquinhas por falta da amiga, e adivinhando on<strong>de</strong> a acharia, correu ao segundo<br />
andar.<br />
Quando entrou no quarto da “Bela Órfã” não pô<strong>de</strong> reter um pequeno grito <strong>de</strong><br />
susto:<br />
Celina estava meio <strong>de</strong>itada em seu leito, e com o rosto coberto com um lenço<br />
chorava tristemente; seus cabelos se haviam <strong>de</strong>satado e caíam-lhe espalhados sobre<br />
o lindo colo.<br />
Escutando o grito <strong>de</strong> Mariquinhas, tirou o lenço dos olhos, e sentando-se,<br />
perguntou agitada:<br />
– Quem é?...<br />
– Sou eu, d. Celina, disse Mariquinhas aproximando-se; sou eu, que te venho<br />
perguntar o que querem dizer essas lágrimas.<br />
A “Bela Órfã” passou a mão pela fronte e respon<strong>de</strong>u tristemente:<br />
– Já te não disse que não estava boa?... é a minha cabeça que sofre.<br />
Mariquinhas olhou para a amiga por algum tempo, e <strong>de</strong>pois tornou-lhe assim:<br />
– Sou alegre, d. Celina, tu me chamas maliciosa. d. Felícia diz que eu sou<br />
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