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OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

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esvaziassem ainda mais dois cálices <strong>de</strong> vinho, e <strong>de</strong>pois disse:<br />

– Mas, tornando, como lá se diz, à vaca fria, <strong>de</strong>vo notar que não são muito<br />

concor<strong>de</strong>s em um ponto da tal história.<br />

– Em qual?<br />

– O sr. Jacó diz que o casal brigado e separado reconciliou-se em<br />

conseqüência <strong>de</strong> uma carta muito cheia <strong>de</strong> lamúrias e <strong>de</strong> tolices, escrita por um<br />

<strong>de</strong>les.<br />

– É certo!<br />

– Foi tal qual.<br />

– Sim; mas ontem o sr. Jacó sustentou que a carta estava assinada pela<br />

mulher, e a sra. d. Helena jurou que era do próprio punho do marido.<br />

– É da mulher.<br />

– É do marido.<br />

– Então em que ficamos?<br />

– Não faltava mais nada?... uma mulher abaixar a cabeça a um homem!...<br />

– Pois digo-lhe eu que a carta é da mulher! exclamou Jacó, dando na mesa um<br />

forte murro.<br />

– É mentira, sr. João!<br />

O velho soltou uma gargalhada estrepitosa.<br />

Jacó e Helena, extremamente espiritualizados, teimavam um com o outro com<br />

<strong>de</strong>sespero e furor. João, em vez <strong>de</strong> apaziguá-los, os <strong>de</strong>safiava cada vez mais com<br />

suas gargalhadas.<br />

– Ferve-me o sangue quando esta mulher do diabo teima comigo!<br />

– Este homem, sr. João, não abre a boca que não minta! é um inimigo das<br />

mulheres...<br />

– Pois se a carta é da mulher!...<br />

– É do marido!<br />

– Oh! senhora... não teime...<br />

– Tenho dito; é do marido.<br />

– A senhora não sabe que eu tenho a carta no meu “coração”?..<br />

João fez um movimento.<br />

– Pois, se lhe parece... eu não tenho medo...<br />

Jacó olhou para João com ar ainda meio temeroso.<br />

– Deixemo-nos disto, disse este; acabemos com esta contenda; vá à saú<strong>de</strong> dos<br />

bons esposos!<br />

Os copos esvaziaram-se <strong>de</strong> novo; daí a algum tempo João tornou:<br />

– Mas vamos: a carta era da mulher ou do marido?<br />

A embriaguez <strong>de</strong> Jacó e Helena já então era completa; gaguejavam ambos,<br />

falando ao mesmo tempo.<br />

– É da mu... lher...<br />

– É do ma...ri...do...<br />

– Quem fala verda<strong>de</strong>? <strong>de</strong>cidamos.<br />

– Eu...<br />

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