18.04.2013 Views

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

mas apenas viu raiar nos lábios da interessante viúva o mais feiticeiro dos sorrisos.<br />

Com serenida<strong>de</strong>, sangue frio e graça respon<strong>de</strong>u Mariana em tom alegre:<br />

– Quando eu dizia que era ainda uma loucura!...<br />

– Uma loucura somente?... uma quimera, e mais nada.<br />

– Sim... sim; somente uma loucura; mas uma doce loucura, que me agrada,<br />

porque a sua origem me é grata.<br />

– Deus permita que eu fosse realmente um louco!<br />

Apesar da serenida<strong>de</strong> que afetava, a viúva sentia-se terrivelmente combatida<br />

interiormente pelas suspeitas <strong>de</strong> Henrique; a todo transe quis saber até on<strong>de</strong> tinham<br />

elas chegado.<br />

– Porém, disse ela, para que ficar assim apenas conhecido por meta<strong>de</strong> o juízo<br />

que fez a meu respeito?... arrependo-me <strong>de</strong> o haver interrompido.<br />

– Ao contrário, senhora, fez bem em dar apressada um copo d’água ao homem<br />

morto <strong>de</strong> se<strong>de</strong>; tanto mais que o meu juízo parou aí... não pensei mais nada...<br />

– Fala seriamente? não procurou conhecer esse homem que podia tanto em<br />

mim, nem <strong>de</strong>scobrir a causa <strong>de</strong> sua admirável influência?...<br />

– Não passei além do que disse.<br />

– Oh! exclamou Mariana, Deus permita que os seus votos <strong>de</strong> amor sejam mais<br />

verda<strong>de</strong>iros do que as suas últimas palavras...<br />

– Por que, minha senhora?...<br />

– Porque agora não disse a verda<strong>de</strong>. O homem do qual quer falar está ali na<br />

sala... seus olhos o procuraram ainda há pouco.<br />

– É verda<strong>de</strong>, murmurou Henrique.<br />

Mariana corou, e disse com violência mal comprimida:<br />

– E o senhor... o homem a quem eu distingui com o meu amor, o senhor que é<br />

um homem nobre, porque se o não fora eu o não amara, abaixou-se até o ponto <strong>de</strong><br />

tomar para seu rival um miserável que não tem espírito nem beleza?... rebaixou-me,<br />

dando-me por amante um moço sem mérito e que eu <strong>de</strong>testo!...<br />

– É possível...<br />

– Oh!... eu sei amar melhor do que sou amada!...<br />

Henrique apertava com ardor uma das mãos <strong>de</strong> Mariana; cairia a seus pés, se<br />

não pu<strong>de</strong>sse ser visto por tanta gente que estava a alguns passos <strong>de</strong>les.<br />

– Eu sei amar melhor, continuou a viúva. Porque ao menos eu não rebaixaria<br />

o homem que amo, julgando-o capaz <strong>de</strong> esquecer-me por uma mulher que não se<br />

pu<strong>de</strong>sse comparar comigo!...<br />

– Mas aquele homem por toda a parte a segue... e eu... ah! senhora, eu já disse<br />

que sou um louco.<br />

O rosto <strong>de</strong> Mariana tomou ainda uma nova expressão fisionômica; radiou nele<br />

outra vez o prazer, e com acento gracioso respon<strong>de</strong>u:<br />

– Quando eu digo que amo, que me é grata uma loucura assim!...<br />

– Que contradição, meu Deus!<br />

– Que quer?! a culpa não é minha; quando penso em levantar-me violenta e<br />

ressentida contra essa loucura, vem logo <strong>de</strong>sarmar-me a imagem do louco!...<br />

122

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!