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OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

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Cândido <strong>de</strong> um lado e Rodrigues do outro, observavam a cena <strong>de</strong> braços<br />

cruzados.<br />

A sala achou-se bem <strong>de</strong>pressa iluminada.<br />

– Nada <strong>de</strong> cerimônias; sentemo-nos. Vejamos, meu nobre senhor, apresentenos<br />

o seu ultimato.<br />

– Senhora!...<br />

– Nada <strong>de</strong> interjeições; sobretudo, eu tenho pressa.<br />

– Pois bem, senhora; eis aqui um contrato <strong>de</strong> casamento, ao qual só falta a<br />

assinatura <strong>de</strong> sua sobrinha.<br />

Mariana recebeu o contrato, e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> seriamente examiná-lo, disse:<br />

– Pouco entendo <strong>de</strong> direito; todavia, creio que o tabelião e as testemunhas<br />

<strong>de</strong>veriam ter-se achado aqui.<br />

– É possível que o <strong>de</strong>sejasse?<br />

– Certamente; e como faltou essa formalida<strong>de</strong>, que me dizem ser <strong>de</strong> modo<br />

mui positivo recomendada pela lei, peço-lhe licença para, em nome <strong>de</strong> minha<br />

sobrinha, rejeitar este papel.<br />

Salustiano mor<strong>de</strong>u os beiços e disse:<br />

– E terei eu também licença para mostrar aqui, e em toda a parte, um outro<br />

papel que trago no meu bolso?<br />

– Aqui é <strong>de</strong>snecessário, respon<strong>de</strong>u Mariana sem hesitar; porque sabemos<br />

ambos que o sr. Rodrigues tem inteiro conhecimento <strong>de</strong>sse papel, e o sr. Cândido já<br />

não ignora sobre que ele trata.<br />

– E lá fora? perguntou Salustiano elevando a voz.<br />

– Lá fora, senhor, po<strong>de</strong>rá mostrá-lo a quem bem lhe parecer. Mas já que se<br />

quer dar ao incômodo <strong>de</strong> tornar público um erro <strong>de</strong> meus primeiros anos <strong>de</strong> moça,<br />

ofereço-me para facilitar-lhe a prova viva e documental <strong>de</strong>sse erro.<br />

– Eu a tenho no meu bolso, senhora.<br />

– Quero dar-lhe outra muito melhor.<br />

– Melhor ainda? e qual?<br />

– É meu filho, disse a viúva apontando para Cândido.<br />

Salustiano ficou estupefato.<br />

Cândido aproximou-se <strong>de</strong>le, e oferecendo-lhe a mão, disse com acento<br />

comovido:<br />

– Meu irmão...<br />

A voz <strong>de</strong> Cândido <strong>de</strong>spertou Salustiano, que, soltando uma risada <strong>de</strong> escárnio,<br />

exclamou:<br />

– Impostor!<br />

Cândido corou até a raiz dos cabelos, e recolhendo a mão que havia estendido,<br />

cruzou <strong>de</strong> novo os braços.<br />

Mariana apertou entre as suas uma das mãos do mancebo, dizendo-lhe:<br />

– Não cores assim, meu filho; que importa que teu irmão te <strong>de</strong>sconheça, se tua<br />

mãe te abre os braços?... vem... eu quero apertar-te contra meu seio diante <strong>de</strong>le;<br />

vem!<br />

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