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OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

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– Não, <strong>de</strong> modo nenhum, João; eu espero ainda tudo da Providência.<br />

– Bem, crês então que <strong>de</strong>vemos cruzar os braços?<br />

– Também não; escuta: eu vou falar a esse presumido moço que te insultou.<br />

– E para que fim?... que lhe irás dizer?<br />

– Contar-lhe-ei ainda uma vez a nossa história.<br />

– Rir-se-á <strong>de</strong>la.<br />

– Lembrar-lhe-ei o crime que cometeu...<br />

– Zombará <strong>de</strong> ti, Rodrigues.<br />

– Hei <strong>de</strong> assustá-lo com teus projetos <strong>de</strong> vingança.<br />

– Rir-se-á <strong>de</strong> novo.<br />

– Exigirei por preço <strong>de</strong> nosso silêncio e como condição para vencer o teu<br />

ressentimento, a entrega da carta fatal.<br />

– Mandar-te-á lançar na rua pelos seus escravos.<br />

– Não, João; ele há <strong>de</strong> entregar-me a carta.<br />

– Nada conseguirás.<br />

– Nesse caso justiça será feita.<br />

– Bem.<br />

– A<strong>de</strong>us, João; <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> duas horas estarei <strong>de</strong> volta.<br />

– Eu te espero, respon<strong>de</strong>u João.<br />

O velho Rodrigues tomou o chapéu e dirigiu-se à casa <strong>de</strong> Salustiano.<br />

<strong>CAPÍTULO</strong> XXXVII<br />

TIA E SOBRINHA<br />

POUCO mais ou menos à mesma hora em que o velho Rodrigues se dirigia à<br />

casa <strong>de</strong> Salustiano, uma escrava <strong>de</strong>sceu do segundo andar do “Céu cor-<strong>de</strong>-rosa”, e<br />

entrando na sala do primeiro, on<strong>de</strong> se achava Celina, disse-lhe que sua tia pedia-lhe<br />

se podia subir ao seu quarto para dar-lhe umas palavras.<br />

– Diga-lhe que já vou, respon<strong>de</strong>u a “Bela Órfã”.<br />

E, pouco <strong>de</strong>pois, subiu a escada vagarosamente, e pensando no que po<strong>de</strong>ria ter<br />

dado motivo para tal conferência.<br />

Celina não podia aborrecer a ninguém; mas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que soubera da cena, que<br />

no jardim tivera lugar entre Mariana e Cândido, começara também a <strong>de</strong>sconfiar<br />

muito <strong>de</strong> sua tia.<br />

Mariana estava em seu quarto, pálida, abatida e pensava, sentada em uma<br />

ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> braços. O franzimento <strong>de</strong> sua fronte, seus olhares às vezes amortecidos,<br />

às vezes pasmos, e sempre cravados no chão, e finalmente um não sei quê <strong>de</strong>scuido<br />

em seu penteado e em seus vestidos pareciam revelar que uma dor profunda e<br />

transidora a atormentava.<br />

Também as ricas e gran<strong>de</strong>s senhoras pa<strong>de</strong>cem no fundo da alma! por <strong>de</strong>trás<br />

<strong>de</strong>sses brilhantes a<strong>de</strong>reços e custosas jóias, que lhes ornam e cobrem o colo, está às<br />

vezes aberta uma ferida que lhes vai até o âmago do coração; e esses lábios que<br />

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