OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
e <strong>de</strong>pois perguntou:<br />
– Com que fim pois vieste ver-me?<br />
– Tenho que dizer-te.<br />
– Fala.<br />
– Meu irmão, até hoje <strong>de</strong> manhã um só pensamento nos ocupava. Doravante<br />
nossos <strong>de</strong>sígnios são distintos. Até hoje pensávamos somente em fazer bem. Tu<br />
continuas sempre com a mesma idéia, eu porém estou <strong>de</strong>terminado agora a fazer<br />
mal.<br />
– Adiante, disse Rodrigues.<br />
– Vim pois dizer-te o que <strong>de</strong>scobri, o que sei, o que pretendi, e não pu<strong>de</strong><br />
fazer, para que tu fiques trabalhando para completar a obra que começamos juntos, e<br />
que pela minha parte não posso levar ao cabo.<br />
– Então o que há?<br />
– Salustiano está com efeito <strong>de</strong> posse da décima segunda carta.<br />
– Decerto?<br />
– Eu a vi.<br />
– Tu?...<br />
– Eu a li... tive-a em minhas mãos!<br />
– Oh!...<br />
– Trabalhávamos eu e ele em seu gabinete particular. Anunciou-se um homem<br />
que tu conheces bem, e ele quis ficar a sós com esse homem. Desci. Meia hora<br />
<strong>de</strong>pois os dois <strong>de</strong>sceram por sua vez, e eu subi <strong>de</strong> novo... a porta do quarto <strong>de</strong><br />
Salustiano estava aberta, entrei... a carteira velha tinha a chave na fechadura, abria...<br />
toquei no segredo da primeira gaveta do lado esquerdo, e a décima segunda<br />
estava lá!...<br />
– Bravo! bravo!... exclamou o velho Rodrigues, sem lembrar-se do que<br />
antece<strong>de</strong>ntemente lhe dissera seu irmão.<br />
– Enfim!... exclamei eu, continuava João; e abrindo essa carta fatal, li-a <strong>de</strong><br />
novo; mas quando já guardava-a no bolso... uma voz terrível soou a meus ouvidos, e<br />
um braço forte veio <strong>de</strong>ter meus passos.<br />
– Ah!...<br />
– Era ele, Rodrigues; e durante algum tempo lutamos ambos<br />
<strong>de</strong>sabridamente... enfim a mocida<strong>de</strong> venceu...<br />
– A carta?<br />
– Ficou outra vez em suas mãos!<br />
– Oh!...<br />
– Os pés do mancebo pisaram o rosto do velho!...<br />
– E a carta?... a carta?... exclamou Rodrigues.<br />
– Está lá.<br />
– Insolente moço!... e ele não tremeu?<br />
– Tem ouro.<br />
– Oh! <strong>de</strong>sgraçado!...<br />
– Sim... <strong>de</strong>sgraçado... impru<strong>de</strong>nte!... ele há <strong>de</strong> tremer, porque eu me hei <strong>de</strong><br />
205