18.04.2013 Views

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

– Estou <strong>de</strong>terminado a ir ao “Purgatório-trigueiro”, disse Anacleto olhando<br />

sempre fixamente para sua filha.<br />

– Creio que é o melhor passo a dar, respon<strong>de</strong>u ela sem hesitar.<br />

– Devo pedir uma explicação a esse moço.<br />

– Sem dúvida, tornou a viúva; ninguém melhor do que ele po<strong>de</strong> esclarecer<br />

este mistério.<br />

– Supões que me cumpre esperar ainda alguns dias?... perguntou o velho<br />

observando.<br />

– Ao contrário, disse Mariana, penso que meu pai <strong>de</strong>ve ir falar-lhe hoje<br />

mesmo.<br />

– Bem... irei esta noite.<br />

A filha <strong>de</strong> Anacleto apreciava com justeza o caráter <strong>de</strong> Cândido para temer<br />

que ele <strong>de</strong>clarasse o que havia ocorrido; e sobretudo jogava ainda com a<br />

probabilida<strong>de</strong> do silêncio do mancebo, porque, mesmo quando falasse, ela contava<br />

com o extremoso amor <strong>de</strong> seu pai para ser perdoada.<br />

Ao começar da noite Anacleto dirigiu-se ao “Purgatório-trigueiro”.<br />

Começou conversando com a velha Irias, a quem pediu explicações a respeito<br />

da ausência <strong>de</strong> seu filho adotivo.<br />

A resposta da velha Irias foi uma e única:<br />

– Ele está lá em cima, e melhor do que eu po<strong>de</strong>rá dizer se teve razões para<br />

retirar-se.<br />

Anacleto fez-se anunciar a Cândido.<br />

Quando o moço vinha <strong>de</strong>scendo a escada, Anacleto começou a subi-la<br />

dizendo:<br />

– Sou sem-cerimônia, meu caro, e quero antes ir conversar lá em cima.<br />

O velho e o mancebo acharam-se a sós <strong>de</strong>fronte um do outro.<br />

– Adivinha certamente o motivo que me traz aqui?... perguntou Anacleto.<br />

Cândido não sabia fingir, e respon<strong>de</strong>u:<br />

– Talvez.<br />

– Pois então... ia dizendo o velho.<br />

– Mas, é melhor que o exponha o senhor, interrompeu o mancebo; é possível<br />

também que eu esteja enganado, e que nossos pensamentos, que supomos reunidos<br />

em uma só idéia, se achem pelo contrário bem afastados um do outro.<br />

– Não; não estão.<br />

– Enfim, sou eu quem <strong>de</strong>verá ouvir as causas <strong>de</strong> uma visita que, em todo o<br />

caso, muito me lisonjeia.<br />

– Meu caro, disse Anacleto, eu ponho as formalida<strong>de</strong>s e as etiquetas para o<br />

lado, quando converso com aqueles <strong>de</strong> quem sou amigo; e nós o somos.<br />

Cândido abaixou a cabeça em sinal <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento.<br />

– Ou pelo menos, tornou o velho, eu o sou seu.<br />

O moço tornou a repetir com a cabeça o mesmo sinal <strong>de</strong> há pouco.<br />

– Deixemo-nos pois <strong>de</strong> longos ro<strong>de</strong>ios, e vamos já ferir <strong>de</strong> face a questão. O<br />

senhor retirou-se <strong>de</strong> minha casa <strong>de</strong> um modo singular: <strong>de</strong> duas uma, ou alguém lá o<br />

139

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!