OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
provar-lhe que a “Bela Órfã” fora caluniada, e que o senhor ofendia a pureza, a<br />
virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma inocente moça sustentando uma calúnia.<br />
– Ah! Sr. Rodrigues... murmurou meio comovido o moço.<br />
– Eu jurei que havia <strong>de</strong> confundi-lo com a verda<strong>de</strong>, e <strong>de</strong> castigá-lo com o<br />
arrependimento...<br />
– Mas para quê?...<br />
– Para quê? para que justiça fosse feita a uma interessante virgem; para que<br />
bálsamo consolador fosse <strong>de</strong>rramado no coração <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sgraçado.<br />
– E quem é esse <strong>de</strong>sgraçado?<br />
– É o senhor.<br />
– Tem razão; eu o sou.<br />
– Eu quero que a esperança amanheça <strong>de</strong> novo em sua alma... que arrependida<br />
sua alma se ajoelhe ante a imagem da mulher que amava tanto...<br />
– Senhor... basta.<br />
– Que o seu arrependimento e a sua esperança façam <strong>de</strong> novo falar a sua alma;<br />
que outra vez <strong>de</strong> joelhos ante a imagem da bela virgem a sua alma exclame com<br />
ardor... – eu te amo!<br />
– Senhor, senhor, é preciso que eu lhe diga que consi<strong>de</strong>ro meu inimigo aquele<br />
que me fala <strong>de</strong> amor?<br />
– É uma loucura.<br />
– Que o fogo da vergonha ainda queima meu rosto, quando me lembro do que<br />
comigo se passou nessa horrível noite?<br />
– Mas o bafo da virgem há <strong>de</strong> apagar esse fogo.<br />
– Senhor! nem mais uma palavra sobre ela.<br />
– E as provas <strong>de</strong> sua inocência?<br />
– Eu não as quero.<br />
– Para con<strong>de</strong>ná-la sempre?...<br />
– Não a con<strong>de</strong>no.<br />
– E o amor que lhe tinha?...<br />
– Eu amo a minha mãe.<br />
– E o amor <strong>de</strong>ssa pobre virgem?...<br />
– Senhor!<br />
– Esse amor angélico?! esse perfume <strong>de</strong> flor que se <strong>de</strong>sabrocha?... esse amor...<br />
– Basta... é <strong>de</strong>mais.<br />
– Não quer ouvir-me então?...<br />
– Dispense-me disso, sr. Rodrigues.<br />
– Não me acredita?.<br />
– Não.<br />
– E se eu provar o que digo?...<br />
– É inútil.<br />
– Embora, eu o provarei.<br />
– Mas com que fim?... que lhe importa a minha <strong>de</strong>sgraça ou a minha<br />
felicida<strong>de</strong>?...<br />
162