18.04.2013 Views

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

– Não respondo.<br />

– Ah!... perdão!...<br />

– Pois pergunta <strong>de</strong> novo, disse a viúva rindo-se.<br />

– Por que te crês tão feliz, Mariana?...<br />

– Escuta: para respon<strong>de</strong>r-te daqui a um instante, eu preciso perguntar-te<br />

uma coisa: juras falar-me <strong>de</strong> coração?...<br />

– Sem dúvida.<br />

– Pois bem, Celina, sabes o que é amar... amar um homem que não é nosso<br />

pai, nem nosso irmão?...<br />

A “Bela Órfã” corou até a raiz dos cabelos, e sua perturbação aumentou-se<br />

quando viu que Mariana se estava rindo <strong>de</strong> vê-la assim.<br />

– Oh! não te perturbes, não cores tanto. Lembra-te que estamos sós, e que<br />

somos como duas irmãs que se amam muito. Respon<strong>de</strong> francamente: amas já<br />

alguém?...<br />

– Não, Mariana.<br />

– Falas verda<strong>de</strong>, Celina?...<br />

– Falo verda<strong>de</strong>, respon<strong>de</strong>u a moça com os olhos no chão.<br />

– Mas com <strong>de</strong>zesseis anos, tão bonita e tão viva que és, tu já <strong>de</strong>ves ter<br />

pensado nesse sentimento <strong>de</strong> fogo, que mais cedo ou mais tar<strong>de</strong> sempre<br />

experimentamos; fazes já idéia do que seja amar um homem?...<br />

– Não sei... talvez... tenho lido.<br />

– E então?...<br />

– Mas eu tinha perguntado por que te julgavas feliz, Mariana!<br />

– É porque amo, Celina.<br />

– Eu o supunha.<br />

– Tu o supunhas?... e a quem acreditavas que eu amava?...<br />

Celina hesitou.<br />

– Fala, disse Mariana.<br />

– O sr. Salustiano.<br />

Mariana fez um movimento <strong>de</strong> horror.<br />

– Oh!... nunca! exclamou.<br />

– Como!... pois não é?<br />

– Eu o <strong>de</strong>testo... eu o aborreço, como se aborrece um malvado.<br />

– É possível?<br />

– Pobre menina!... tu ainda não sabes o que é o mundo. Vês-me rir para esse<br />

homem, vês como ambos conversamos e mutuamente nos festejamos, e como com<br />

outras pessoas, pensas que o amo e sou por ele amada. Pois bem: eu <strong>de</strong>testo esse<br />

homem, e ele sabe que eu o <strong>de</strong>testo.<br />

Uma nuvem <strong>de</strong> imensa tristeza passou pelo rosto <strong>de</strong> Mariana há pouco<br />

expandido pelo prazer. Ela ficou muda e pensativa, até que Celina arrependida do<br />

que tinha dito, tomou-lhe uma das mãos entre as suas, e falou-lhe docemente:<br />

– Está bem, Mariana, esqueçamos esse vaidoso mancebo, <strong>de</strong> quem também<br />

não gosto, e falemos sobre aquele que te é caro.<br />

15

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!