OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
– Não.<br />
– Dizia pois que o sr. Cândido tinha bastante razão para andar triste...<br />
ofen<strong>de</strong>ram-no gravemente...<br />
– Sinto isso, balbuciou a moça.<br />
– E há <strong>de</strong> sentir mais quando souber que se serviram do seu nome para<br />
ofendê-lo...<br />
– Do meu nome?... disse a moça estremecendo, e levantando ao mesmo tempo<br />
a cabeça.<br />
– Do seu nome, repetiu o velho.<br />
– E como? e por quê? eu não sei, eu não suspeito coisa alguma...<br />
– Estou certo disso, senhora; mas o fato é grave, e eu não sei se cometo uma<br />
imprudência falando-lhe <strong>de</strong>sse assunto.<br />
– Não, não, fale; eu lhe peço que fale.<br />
– Pois bem, eis aqui o que se passou: o sr. Cândido foi política, mas<br />
formalmente <strong>de</strong>spedido <strong>de</strong>sta casa.<br />
– Quando?... exclamou com traidora comoção a “Bela Órfã”.<br />
– Na noite <strong>de</strong> seus anos.<br />
– E por quê?<br />
– Por sua causa.<br />
– Por minha causa?... meu Deus!... disse a moça com lágrimas nos olhos.<br />
– Sim, minha senhora: sua tia teve com o sr. Cândido uma entrevista no<br />
jardim; quer saber o que ela disse? que nesta sala zombava-se da senhora, dizendose<br />
que a senhora e o pobre mancebo se amavam...<br />
– É falso!.. isso não é verda<strong>de</strong>.<br />
– E que em conseqüência <strong>de</strong>ssas zombarias fora a senhora queixar-se a ela <strong>de</strong><br />
que seu nome estava exposto às calúnias e à maledicência por causa do sr. Cândido.<br />
– Meu Deus! Meu Deus!...<br />
– Que a senhora fizera notar que esse mancebo, apesar <strong>de</strong> suas boas<br />
qualida<strong>de</strong>s, não estava pelo estado <strong>de</strong> pobreza em que se acha, na posição <strong>de</strong><br />
pretendê-la.<br />
– Oh! mas eu não disse nada.<br />
– E finalmente, senhora, sua tia fez compreen<strong>de</strong>r ao pobre moço que a<br />
presença <strong>de</strong>le no “Céu cor-<strong>de</strong>-rosa” tornava-se incômoda e prejudicial à senhora.<br />
– E ele?... perguntou Celina.<br />
– Retirou-se, e não voltará mais nunca ao “Céu cor-<strong>de</strong>-rosa”.<br />
– Acreditou em tudo?!<br />
– Como não acreditar, senhora?!...<br />
– Oh! e me <strong>de</strong>testa!... e julga mal <strong>de</strong> mim!...<br />
– Não! não; ele ainda não soltou uma só queixa.<br />
– E como sabe o senhor <strong>de</strong> tudo isto?...<br />
– Eu estava no jardim, ou perto <strong>de</strong>le. Estava em um lugar on<strong>de</strong> podia e pu<strong>de</strong><br />
observar quanto se passou.<br />
– Oh! e então por que não jurou, por que não disse a esse mancebo que era<br />
136