18.04.2013 Views

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

– Eu o sei.<br />

– À meia-noite bateu à porta do “Purgatório-trigueiro” uma mulher <strong>de</strong><br />

mantilha, que o foi procurar.<br />

– E essa mulher...<br />

– Era Mariana.<br />

– O que queria <strong>de</strong>le?<br />

– Não sei bem, mas parece que conseguiu muito, porque ao romper do dia <strong>de</strong><br />

hoje cheguei ao “Purgatório-trigueiro” muito a tempo...<br />

– A tempo <strong>de</strong> quê?<br />

– De <strong>de</strong>smanchar um projeto <strong>de</strong> viagem a mais extravagante do mundo.<br />

Cândido ia partir.<br />

– Para on<strong>de</strong>?<br />

– Ele mesmo não sabia dizer.<br />

– Rodrigues, aquela mulher é o diabo em pessoa.<br />

– É muito <strong>de</strong>sgraçada, João.<br />

– Por culpa <strong>de</strong>la: tu foste sempre mais piedoso do que eu.<br />

– Não, tu és que te finges mau.<br />

– Está bem; e então não conseguiste saber o motivo <strong>de</strong>ssa viagem?<br />

– O nosso pequeno teimou em ocultá-lo.<br />

– Mas por fim, ce<strong>de</strong>u e ficou.<br />

– Sim; porém custou-me muito. Foi-me preciso tocar-lhe na corda mais<br />

sonora <strong>de</strong> seu coração.<br />

– Ah! já sei, falaste-lhe em sua mãe.<br />

– É verda<strong>de</strong>.<br />

– Pobre rapaz!... e como vai ele <strong>de</strong> amores?<br />

– Olha, João, eu não o entendo. Até ontem à meia-noite era todo ardor, paixão<br />

e esperança.<br />

– E hoje?<br />

– Não quer ouvir o nome da “Bela Órfã”.<br />

– E esta!...<br />

– A mulher da mantilha dobrou muito à sua vonta<strong>de</strong> aquele coração.<br />

– Quando eu digo que ela é o diabo!<br />

– Infeliz! treme diante do mundo. Salustiano é um espectro que a assombra;<br />

obe<strong>de</strong>ce-lhe como a um senhor.<br />

– Cedo eu a livrarei <strong>de</strong>sse fantasma.<br />

– Como?<br />

João ficou olhando por algum tempo para Rodrigues, e <strong>de</strong>pois disse:<br />

– Está bem... era um segredo que eu queria guardar para mim só, mas vou<br />

dizer-to.<br />

Rodrigues escutou curioso.<br />

– Tens um belo vizinho ali <strong>de</strong>fronte, disse João.<br />

– Sim, é o celebre Jacó... aquele nosso escrivão do processo.<br />

– Pois sabe que é muito meu amigo.<br />

218

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!