18.04.2013 Views

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

vagaroso.<br />

– Tinha-se esquecido <strong>de</strong> mim, senhora, disse ele.<br />

A moça abaixou a cabeça, e respon<strong>de</strong>u:<br />

– Tenho passado mal.<br />

– Está doente?...<br />

– Não estou boa.<br />

– Acha-se hoje melhor?<br />

– Não.<br />

– Talvez que nesse caso possa a música incomodá-la.<br />

– Ao contrário.<br />

– Quer cantar?...<br />

– Não; quero ouvir.<br />

– Escolha o que quiser, senhora.<br />

A moça hesitou; mas enfim respon<strong>de</strong>u com a cabeça baixa:<br />

– O mesmo romance que estava cantando há pouco.<br />

O velho Rodrigues começou <strong>de</strong> novo a cantar o “Sonho da Virgem”.<br />

Quando o canto terminou, a “Bela Órfã” <strong>de</strong>ixou cair a cabeça, e ficou<br />

pensativa.<br />

Depois <strong>de</strong> algum tempo <strong>de</strong> silêncio, o velho perguntou:<br />

– Por que está triste assim?<br />

– Não sei; respon<strong>de</strong>u a moça.<br />

– Faz-lhe mal ouvir este romance?<br />

– Não; faz-me bem.<br />

– Mas essa tristeza <strong>de</strong>ve ter forçosamente uma causa... qual é ela?...<br />

– Eu não sei, tornou a moça enxugando uma lágrima.<br />

O velho fingiu não ver essa lágrima, e prosseguiu dizendo:<br />

– Parece que a melancolia é a moléstia reinante da quadra atual.<br />

– Por quê?...<br />

– Tenho um bom amigo pa<strong>de</strong>cendo do mesmo mal.<br />

A moça não disse nada.<br />

– Um bom amigo, que a senhora também conhece.<br />

– Quem é ele?<br />

– O sr. Cândido.<br />

Celina olhou espantada para o guarda-portão, mas para logo abaixou os olhos<br />

rubra <strong>de</strong> pejo.<br />

O velho <strong>de</strong>ixou que a “Bela Órfã” serenasse, e <strong>de</strong>pois continuou:<br />

– É um bom moço aquele sr. Cândido.<br />

A moça não respon<strong>de</strong>u.<br />

– Não pensa como eu? perguntou o velho.<br />

– Penso, murmurou Celina.<br />

– Pois o infeliz moço anda agora bem triste; e <strong>de</strong>sgraçadamente com razão.<br />

A “Bela Órfã” fez um leve movimento.<br />

– Incomodo-a, senhora?<br />

135

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!