OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
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Celina sorria para a vida... amava, era amada, e enfim esperava ser feliz; que<br />
lhe importava o mais?...<br />
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Chegou o dia <strong>de</strong>stinado para o casamento <strong>de</strong> Henrique e Mariana.<br />
Tudo estava pronto: o altar, o sacerdote, os dois amantes e os convidados.<br />
Só faltava Cândido. Debal<strong>de</strong> o esperaram por muito tempo.<br />
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Na manhã <strong>de</strong>sse dia Cândido, ao erguer-se do leito, recebeu da mão <strong>de</strong> Irias<br />
uma volumosa carta a ele dirigida.<br />
Abriu e leu a carta curioso.<br />
“Meu irmão: – Deste-me uma gran<strong>de</strong> lição <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>: mostrar-te-ei que a<br />
não gastaste mal comigo.<br />
“Eu era um moço perdido, sem nobreza, sem generosida<strong>de</strong> e sem amor do<br />
que é verda<strong>de</strong>iramente belo. Provarei que, com o exemplo da honra, soube<br />
conhecer os meus erros.<br />
“Meu irmão, quando eu tornar a aparecer a teus olhos, não te envergonharás<br />
<strong>de</strong> me apertar a mão. Eu parto, para on<strong>de</strong> não sei ainda.<br />
“Voltarei talvez um dia... quando o estudo, a meditação, as lágrimas, e as<br />
viagens tiverem gasto todos os meus remorsos, e me disserem que já não sou o<br />
mesmo.<br />
“Voltarei digno <strong>de</strong> meu irmão; digno daquele que fez ar<strong>de</strong>r a meus olhos um<br />
milhão e um processo.<br />
“No entretanto, meu irmão, eu te <strong>de</strong>ixo a minha casa, confio-te a riqueza que<br />
nos <strong>de</strong>ixou nosso pai. Acompanham a esta a escritura e todas as disposições<br />
necessárias para que tomes a direção da casa, como seu administrador-geral e meu<br />
sócio.<br />
“Não é possível recusar, meu irmão; em nossa casa te esperam, e quando<br />
receberes esta, já estarei longe do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
“A<strong>de</strong>us, meu irmão. Eu te agra<strong>de</strong>ço me teres feito bom... me teres feito<br />
cristão.<br />
“A<strong>de</strong>us! até um dia.<br />
“Teu irmão, – Salustiano.”<br />
Acabando <strong>de</strong> ler a carta, Cândido vestiu-se apressadamente, e saiu agitado.<br />
Encontrando João e Rodrigues, contou-lhes o que havia, e correram todos três em<br />
procura <strong>de</strong> Salustiano.<br />
Per<strong>de</strong>ram quase todo o dia em inúteis indagações; finalmente <strong>de</strong>scobriram que<br />
o mancebo tinha tirado um passaporte e que se embarcara ao romper da aurora em<br />
um navio europeu.<br />
Os três amigos correram à praia... tomaram informações; um inconveniente<br />
inesperado <strong>de</strong>morava o navio por algumas horas. Cândido, Rodrigues e João<br />
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