OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
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– Para as moças?...<br />
– Sim, minha senhora, o que é um segredo para as moças?<br />
– É uma coisa que se diz baixinho aos ouvidos <strong>de</strong> quase todos.<br />
– Pois, nesse caso, minha senhora, peço a V. Exa. que, se me julgar digno<br />
disso, diga-me o seu segredo, ainda que seja baixinho.<br />
– Oh! este po<strong>de</strong>-se contar em voz alta.<br />
– Se portanto me supõe digno...<br />
– Sem dúvida que o julgo; até V. Sa. nos há <strong>de</strong> servir <strong>de</strong> muito.<br />
– Estou à espera, minha senhora.<br />
– Trata-se <strong>de</strong> um romance...<br />
– De um romance?!<br />
– Sim, <strong>de</strong> um romance, que d. Celina e eu estamos compondo.<br />
– Parabéns, minhas senhoras; mas eu não sei... V. Exas. querem porventura<br />
um terceiro colaborador?...<br />
– Qual?...<br />
– Eu. V. Exa. tinha falado em mim.<br />
– Deus nos livre! per<strong>de</strong>ríamos a glória <strong>de</strong> autoras.<br />
– Por quê?<br />
– Os senhores homens custam muito a julgar-nos capazes <strong>de</strong> escrever; e<br />
portanto era V. Sa. quem ganharia todas as honras da obra.<br />
– Mas esse romance..<br />
– É uma história <strong>de</strong> todos os dias e <strong>de</strong> todos os salões.<br />
– Já está completa?<br />
– A invenção completamos hoje; mas a execução nos está dando muito que<br />
fazer.<br />
– O que falta?<br />
– Quase tudo; atrapalha-nos gran<strong>de</strong>mente uma das principais personagens.<br />
– Por quê?<br />
– Pela dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>screvê-la; mas V. Sa. chegou muito a tempo.<br />
– E então?<br />
– Então, é que enquanto nós conversamos, d. Celina vai tomando nota.<br />
– Nesse caso eu...<br />
– V. Sa. ou outro qualquer... V. Sa. é como quase todos...<br />
– Obrigado, minha senhora.<br />
– Cortou-me a palavra; não tem que agra<strong>de</strong>cer-me, pois não sabe o que eu ia<br />
dizer.<br />
– Adivinhei.<br />
– Dou-lhe parabéns: veja se adivinha também o nosso romance.<br />
– Não chego a tanto, minha senhora.<br />
– Quer que lhe tracemos o esqueleto da nossa obra?...<br />
– Terei muito prazer em ouvir a V. Exa.<br />
– Não po<strong>de</strong>rá fazer uma justa idéia do que será, pela falta dos episódios e dos<br />
diálogos.<br />
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