18.04.2013 Views

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

falso tudo isso que avançaram contra mim?...<br />

– Eu lho disse, senhora.<br />

– E ele?<br />

– Não quis crer-me.<br />

– Sim! sim! e tinha razão; exclamou por entre lágrimas a “Bela Órfã”; tinha<br />

muita razão!... quem po<strong>de</strong>ria suspeitar que minha tia levantasse contra mim uma tão<br />

gran<strong>de</strong> calúnia?! que quer dizer isto, meu Deus?... que mal tenho eu feito?... que<br />

significa esta intriga?... oh! e que juízo estará fazendo <strong>de</strong> mim esse nobre moço?<br />

como não terá ele amaldiçoado a hora em que pela primeira vez me viu?!<br />

– Não, tornou o velho; ele não há <strong>de</strong> amaldiçoá-la nunca.<br />

– Minha cabeça ar<strong>de</strong>, disse a moça sem aten<strong>de</strong>r ao guarda-portão: eu me<br />

perco... eu não sei o que faça; mas é terrível que eu <strong>de</strong>ixe assim vingar uma intriga...<br />

uma calúnia que me <strong>de</strong>sdoura!... não, não é possível.<br />

E voltando-se para o velho tomou-lhe uma das mãos, e apertando-a<br />

prosseguiu:<br />

– Sr. Rodrigues, eu <strong>de</strong>vo-lhe amiza<strong>de</strong>; sei que me estima; não consinta pois<br />

que tão injustamente estejam talvez praguejando contra mim. Eu sou uma pobre<br />

criança... <strong>de</strong>vo fazer loucuras... mas nunca me lembrei <strong>de</strong> dizer o que disseram que<br />

eu disse. Vá, escute; se não julga haver nisso inconveniente, vá ter com esse moço, e<br />

diga-lhe da minha parte...<br />

A virgem parou subitamente... cobriu-se-lhe o rosto <strong>de</strong> uma cor rubra, e ela<br />

estremeceu...<br />

– Dizer-lhe o quê?... perguntou o velho.<br />

– Nada! não lhe diga nada! tornou a “Bela Órfã” com tristeza profunda.<br />

O guarda-portão ficou olhando admirado para Celina.<br />

– Desculpe-me, disse <strong>de</strong>pois a moça: uma calúnia <strong>de</strong>ve ter bastante força para<br />

exaltar sua vítima, como eu há pouco me exaltei.<br />

– E aquele pobre moço?...<br />

– Saberá um dia a verda<strong>de</strong>, no entanto não posso esquecer-me do que <strong>de</strong>vo à<br />

minha educação. Uma coisa só tenho direito <strong>de</strong> fazer..<br />

– O quê?...<br />

– Queixar-me-ei a meu avô, mesmo na presença <strong>de</strong> minha tia.<br />

O rosto <strong>de</strong> Celina tinha tomado um tal aspecto <strong>de</strong> nobreza, sua voz um timbre<br />

tão forte, o seu olhar tanto fogo, que o velho Rodrigues esteve durante muito tempo<br />

olhando para ela sem dizer palavra<br />

– Perdoe-me, senhora, disse ele enfim; mas eu creio que não vai bem pelo<br />

caminho que preten<strong>de</strong> seguir.<br />

– Por quê?... perguntou ela com voz firme.<br />

– Porque, se há intriga como supõe, é um erro expor-se a ela com essa<br />

franqueza que a caracteriza. Os que intrigam trabalham sob o manto da noite, e para<br />

triunfar <strong>de</strong>les não basta a inocência, é necessária também a prudência. Senhora, não<br />

diga coisa alguma a seu avô, nem se atraiçoe diante <strong>de</strong> sua tia.<br />

– Que <strong>de</strong>vo pois fazer?... perguntou a moça olhando admirada para o velho.<br />

137

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!