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OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

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E <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> abraçar apertadamente seu filho, continuou dirigindo-se a<br />

Salustiano:<br />

– Vê bem que já não receio o veneno da sua língua. Acabou-se o senhor,<br />

<strong>de</strong>sapareceu a escrava. Agora eu o <strong>de</strong>safio orgulhosa!<br />

– Ainda quando o que se representa aqui não fosse uma miserável comédia,<br />

respon<strong>de</strong>u Salustiano, ainda quando o que está dizendo tivesse todos os visos <strong>de</strong><br />

verda<strong>de</strong>, acredita, minha senhora, que toda a esperança <strong>de</strong> vingar-me estava perdida<br />

para mim?<br />

– Oh!... ainda?...<br />

– Pois bem... o sr. Cândido é seu filho? qual é o nome do pai <strong>de</strong> seu filho?<br />

Mariana fez um movimento.<br />

– Senhor...<br />

– Não respon<strong>de</strong>?... tanto melhor. Irei perguntar ao sr. Henrique...<br />

A viúva empali<strong>de</strong>ceu; lembrou-se do amor daquele que o inesperado<br />

aparecimento <strong>de</strong> seu filho fizera esquecer tanto tempo. Duas lágrimas eloqüentes<br />

pen<strong>de</strong>ram das pálpebras <strong>de</strong> Mariana.<br />

Cândido com um olhar cheio <strong>de</strong> amor e <strong>de</strong> profundo sentimento, mostrou<br />

compreen<strong>de</strong>r a significação <strong>de</strong>stas lágrimas.<br />

– A resposta <strong>de</strong> Henrique, senhora, será pronta e nobre; não preciso dizer qual<br />

seja...<br />

– Embora... balbuciou, como gemendo, a mãe <strong>de</strong> Cândido, olhando<br />

ternamente para seu filho.<br />

– Deixarei Henrique, senhora, prosseguiu Salustiano, e hei <strong>de</strong> vir fazer a<br />

mesma pergunta a um honrado velho que vive <strong>de</strong> amar sua filha... que a julga pura,<br />

que...<br />

Mariana soltou um grito; Cândido ia dar um passo, mas ela atirou-se entre ele<br />

e Salustiano.<br />

– Embora! exclamou com fogo, embora! perca-se tudo! rompa-se este<br />

casamento que <strong>de</strong>veria fazer a ventura do resto da minha vida! <strong>de</strong>rrame ainda meu<br />

pai lágrimas amargas por minha causa; mas renegar meu filho? afastá-lo <strong>de</strong> meus<br />

olhos? negar-lhe o meu seio? nunca, nunca! agora, senhor, antes <strong>de</strong> todos está meu<br />

filho.<br />

E chorando lágrimas <strong>de</strong> amor, abraçou-se estreitamente com Cândido.<br />

– Bem, senhora, disse Salustiano tomando o chapéu, eu me retiro... tudo está<br />

<strong>de</strong>cidido entre nós.<br />

Cândido tinha sentido vibrar todas as cordas do coração <strong>de</strong> sua mãe;<br />

compreen<strong>de</strong>u que ia ser a causa <strong>de</strong> seus tormentos e <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>sgraça; e fazendo um<br />

violento esforço, <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>u-se dos braços que o apertavam, e lançando-se adiante<br />

<strong>de</strong> Salustiano, exclamou:<br />

– Uma palavra, senhor!<br />

– O que temos? perguntou com <strong>de</strong>sprezo o moço.<br />

– Conhece a letra <strong>de</strong> seu pai?<br />

– Sim.<br />

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