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OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

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para Mariana; com indiferença para Anacleto.<br />

O ancião o tratava com aparente civilida<strong>de</strong>, mas havia sensível frieza em suas<br />

maneiras.<br />

Celina tinha os olhos embebidos em seu avô. Parecia estar vendo nele o seu<br />

<strong>de</strong>fensor; e como que fazia <strong>de</strong> conta que Salustiano não se achava na sala.<br />

Mariana, à força <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>, conseguia fazer <strong>de</strong>saparecer todas essas<br />

sombras, e <strong>de</strong>rramava enchentes <strong>de</strong> luz <strong>de</strong> seu espírito no meio daquele grupo.<br />

Tratava Salustiano com indizível bonda<strong>de</strong> e sustentava quase só todo peso da conversação.<br />

No entretanto era Mariana quem ali mais aborrecia o presumido mancebo.<br />

Esta cena era a mesma que se representava todas as vezes em que Salustiano<br />

vinha visitar aquela família, o que a miúdo sucedia.<br />

Havia, <strong>de</strong>via <strong>de</strong> haver portanto um misterioso motivo que <strong>de</strong>sse àquele<br />

presunçoso mancebo a força necessária para se impor ali <strong>de</strong> modo tão insólito.<br />

Bateram palmas.<br />

– Agora é sem dúvida ela, disse Anacleto; vai recebê-la, Celina.<br />

A menina dirigiu-se à porta.<br />

– E quem é ela?... perguntou Salustiano.<br />

– Oh, senhor! Descanse... respon<strong>de</strong>u Mariana; não se incomo<strong>de</strong>... é apenas<br />

uma velha.<br />

– Ainda bem, tornou Salustiano rindo. Fazia-se necessária aqui para<br />

estabelecer um contraste.<br />

À porta da sala apareceram então uma velha e um moço, Irias e Cândido.<br />

Salustiano com um sorriso insolente, e com uma luneta ainda mais insolente,<br />

observava os recém-chegados, que vieram tomar assento.<br />

Conversou-se sobre o acontecimento da véspera.<br />

Irias tinha tomado por sua conta fazer o elogio da “Bela Órfã”, e relatou o<br />

caso com entusiasmo e gratidão. Quando chegou ao fim, Salustiano dirigiu-se a<br />

Cândido, e perguntou:<br />

– E o senhor o que fazia?...<br />

– Ele?... queria lançar-se contra a canalha que me insultava, e o teria<br />

certamente feito se eu o não agarrasse com minhas mãos <strong>de</strong> ferro... porque eu sou<br />

velha... uma pobre mulher velha, disse Irias esten<strong>de</strong>ndo suas mãos compridas<br />

magras e nervosas; mas tenho força.<br />

– E quando a senhora o não susteve mais, o que fez o senhor?...<br />

– Quando ela me não susteve mais, disse Cândido, que havia corado até a raiz<br />

dos cabelos, já um anjo benéfico nos tinha salvado, e eu compreendi logo que para<br />

não ser indigno <strong>de</strong>sse socorro <strong>de</strong>veria não <strong>de</strong>scer até a canalha...<br />

– Porque aliás... interrompeu com seu sorriso maligno Salustiano.<br />

– Porque aliás, tornou Cândido ressentido-se, eu faria o que faz um homem <strong>de</strong><br />

brio.<br />

– E o que é que faz um homem <strong>de</strong> brio?...<br />

– Pois o senhor não sabe? perguntou Cândido com acento muito significativo.<br />

Salustiano corou por sua vez.<br />

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