18.04.2013 Views

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

– E tu que dizes, Celina?... indagou Luisinha, dirigindo-se a mim.<br />

Eu fiquei em silêncio por algum tempo. Mas enfim, corando muito <strong>de</strong> minha<br />

ignorância, perguntei:<br />

– O que é amar?<br />

Minhas duas amigas começaram a rir tanto... tanto... que por fim lhes causou<br />

pieda<strong>de</strong> a perturbação em que me punha a hilarida<strong>de</strong> que eu provocara.<br />

– Pois não sabes o que é amar?...<br />

– Amo a meus pais, a meus parentes, a minhas amigas, e aos amigos <strong>de</strong> meus<br />

pais. O mais não sei.<br />

– Coitada! murmurou Leopoldina.<br />

– Pobre criança!... acrescentou a outra.<br />

Eu me achava realmente confundida.<br />

– Luisinha, explica-lhe o que é amar, disse Leopoldina.<br />

Então Luisinha tomou uma <strong>de</strong> minhas mãos entre as <strong>de</strong>la, e me falou assim:<br />

– Celina, eu vou dizer-te o que é amar um homem que não é nosso pai, nem<br />

nosso irmão, nem nosso amigo; escuta. Nem sempre pertencemos a nossos pais.<br />

Chega um dia em que a nossa vida começa a correr <strong>de</strong> outro modo, e <strong>de</strong>ixando<br />

aqueles que nos <strong>de</strong>ram a existência, passamos a ser a eterna companheira <strong>de</strong> um<br />

homem, que nos <strong>de</strong>ve amar e trabalhar para nós, que reparte conosco seus prazeres e<br />

seus pesares; que forma com sua companheira um ente só; que é o nosso melhor<br />

amigo, e mais do que nosso irmão. Ora pois, escolher, mesmo sem se querer, sem se<br />

sentir, mas escolher com os olhos e com o coração entre mil, entre todos um<br />

homem, ao qual <strong>de</strong>sejamos pertencer <strong>de</strong>sse modo; pensar nele <strong>de</strong> dia, sonhar com<br />

ele <strong>de</strong> noite, estar triste em sua ausência, tremer <strong>de</strong> alegria e <strong>de</strong> pejo a seu lado,<br />

resistir às or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> um pai, que manda esquecê-lo, e lembrá-lo ainda mais <strong>de</strong>pois<br />

disso, jurar ser <strong>de</strong>le ou <strong>de</strong> ninguém, e sofrer tudo por ele: eis aqui o que é amar.<br />

– Ah! Celina! exclamou Mariquinhas interrompendo-a; a tua camarada tinha<br />

aproveitado muito no colégio!...<br />

– Não a interrompas, disse Felícia.<br />

Celina continuou:<br />

– Eu fiquei pensativa e admirada. Nunca me tinha vindo ao pensamento que<br />

se pu<strong>de</strong>sse amar assim a um homem estranho.<br />

Luisinha ainda se dirigiu a mim:<br />

– E agora, que já sabes o que é amar, Celina, é preciso que subscrevas ao<br />

nosso ajuste; que, nunca sejas a companheira <strong>de</strong> um homem a quem não tenhas<br />

amor; e que, finalmente, logo que chegues a amar, no-lo digas em confidência.<br />

– Mas quem sabe se chegarei a amar <strong>de</strong>sse modo? respondi eu.<br />

Minhas duas amigas começaram a rir <strong>de</strong> novo; e Luisinha replicou:<br />

– Hás <strong>de</strong> chegar, Celina; o amor vem quase sempre contra nossa vonta<strong>de</strong> e<br />

ainda contra nossa vonta<strong>de</strong> se <strong>de</strong>ixa ficar em nossos corações.<br />

– E como sabes isso, Luisinha?...<br />

– Ora! tornou-me ela; achei uma boa amiga que me <strong>de</strong>u as explicações que<br />

agora te estou dando.<br />

51

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!