OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
– Espera.<br />
– Tanto tempo!<br />
– Espera; confia na Santa Virgem, a quem te recomen<strong>de</strong>i quando te recebi em<br />
meus braços; a Santa Virgem te mostrará tua mãe...<br />
– Oh! que eu a veja!...<br />
– Bateram na porta.<br />
– Batem... disse a velha.<br />
– Quando eu pedia minha mãe!...<br />
Bateram <strong>de</strong> novo.<br />
– É talvez ele.<br />
– Quem?...<br />
– O <strong>de</strong>sconhecido.<br />
Cândido lançou-se para a porta, que se abriu imediatamente.<br />
Entrou um vulto preto.<br />
– É ele! exclamou a velha.<br />
– Não, respon<strong>de</strong>u Cândido; é uma senhora <strong>de</strong> mantilha.<br />
<strong>CAPÍTULO</strong> XXXIV<br />
A MULHER DE MANTILHA<br />
A MULHER <strong>de</strong> mantilha que tinha acabado <strong>de</strong> entrar, ficara em pé e<br />
silenciosa junto da porta.<br />
Trazia tão fechada a mantilha, que apenas se podia <strong>de</strong>scobrir os olhos, que<br />
eram negros e brilhantes.<br />
– Minha senhora, disse Cândido, aqui está uma ca<strong>de</strong>ira.<br />
A <strong>de</strong>sconhecida esten<strong>de</strong>u fora da mantilha um braço perfeitamente torneado<br />
pela natureza, e com uma mão <strong>de</strong>licada e fina tomando a <strong>de</strong> Cândido, puxou para si<br />
o mancebo com voz muito baixa disse:<br />
– Eu preciso falar a sós com o senhor.<br />
– Comigo? a sós?...<br />
– Sim.<br />
– Prefere conversar aqui mesmo, ou quer antes subir ao meu quarto?...<br />
– Prefiro o lugar on<strong>de</strong> mais livremente pu<strong>de</strong>r falar-lhe.<br />
A voz da <strong>de</strong>sconhecida estava trêmula. Cândido pretendia <strong>de</strong>bal<strong>de</strong> lembrar-se<br />
em que ocasião e on<strong>de</strong> tinha ouvido uma voz que se parecia com aquela. Sentia ao<br />
mesmo tempo uma curiosida<strong>de</strong> imensa <strong>de</strong> conhecer essa mulher que a tais horas e<br />
por tal modo o viera procurar.<br />
– Minha mãe, disse ele voltando-se para Irias, a senhora quer falar-me sem<br />
testemunhas; eu vos peço licença para subir com ela ao sótão.<br />
– Meu filho, respon<strong>de</strong>u a velha, a casa é tua; dá a mão à senhora.<br />
Cândido ofereceu a mão à <strong>de</strong>sconhecida e a guiou pelo corredor à escadinha<br />
do sótão.<br />
189