18.04.2013 Views

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

um beijo.<br />

– Não tem tanta graça como teria o outro, disse Mariquinhas sorrindo.<br />

– Ah! D. Mariquinhas! Você é mil vezes maliciosa.<br />

Felícia, e muitas outras senhoras moças e belas também, vieram cercar a<br />

“Bela Órfã”.<br />

A música soou, convidando a dançar.<br />

Os mancebos correram às senhoras; todas as contradanças, e mais ainda do<br />

que aquelas que se po<strong>de</strong>riam dançar nessa noite, foram pedidas e prometidas.<br />

Insensivelmente a “Bela Órfã” correu com os olhos todos aqueles mancebos,<br />

como se algum procurasse entre eles... pareceu primeiro temer encontrá-lo, e <strong>de</strong>pois<br />

entristecer-se por não vê-lo... realmente buscava ela alguém?<br />

Cândido não se apresentou para dançar.<br />

Sem motivo algum plausível, Celina negou a todos a segunda quadrilha; ela<br />

mesma não sabia por que a negava.<br />

No último serão a “Bela Órfã” tinha dançado essa contra dança ao lado direito<br />

<strong>de</strong> Cândido; quereria a moça repreendê-lo assim, por não vir pedi-la naquela noite<br />

<strong>de</strong> seus anos?...<br />

Há na vida das moças em que a educação e a inocência po<strong>de</strong>m mais que as<br />

idéias livres e <strong>de</strong>sabusadas <strong>de</strong> algumas socieda<strong>de</strong>s que tudo pervertem, fatos tão<br />

pequeninos, ações tão leves e ingênuas, pensamentos soltos ao acaso, mas que às<br />

vezes envolvem tão importantes mistérios do coração, que é possível que tudo<br />

quanto se estava passando interiormente em Celina, esses receios misturados <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sejos, essas inconseqüências enfim, não fossem mais do que a voz da natureza,<br />

que a próprio pesar da “Bela Órfã”, ou sem que ela o sentisse, estivesse bradandolhe<br />

no coração: – eu já amo!...<br />

Tinham por momentos cessado as quadrilhas e valsas. Respiravam os pares.<br />

Duas senhoras haviam já, no intervalo daquelas, cantado.<br />

– Então, Celina, disse o velho Anacleto, vindo direito à sua neta; já esqueceste<br />

uma promessa que te fizeram?...<br />

– Que promessa?...<br />

– A <strong>de</strong> se <strong>de</strong>ixar ouvir aquele senhor, que como sempre lá está sentado no seu<br />

canto?...<br />

– Ah! disse a “Bela Órfã”, como recordando-se.<br />

– Vamos a isto, tornou o velho.<br />

E indo direito a Cândido, o trouxe para junto das senhoras.<br />

– Eis o nosso novo cantor... teremos uma estréia esta noite.<br />

Houve um movimento <strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong>.<br />

– O que preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar-nos ouvir?... perguntou uma senhora.<br />

– Uma ária <strong>de</strong> Bellini certamente, disse outra.<br />

– Não, minhas senhoras, ousarei cantar um romance.<br />

– Em italiano?...<br />

– Também não, senhora, em nossa própria língua.<br />

D. Mariquinhas fez com os lábios um momo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagrado. Tinha razão.<br />

99

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!