18.04.2013 Views

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

amigos, e vou jantar com ele; vinha por isso dizer-te a<strong>de</strong>us.<br />

– Não preten<strong>de</strong> voltar cedo?<br />

– De ordinário a gente se <strong>de</strong>mora mais nestes dias...<br />

– Então a que horas?<br />

– Às <strong>de</strong>z da noite, pouco mais ou menos.<br />

Apesar seu, Mariana sentiu que lhe iam faltar as forças... tornou-se pálida e<br />

segurou-se a uma ca<strong>de</strong>ira.<br />

Infelizmente escapou isso aos olhos <strong>de</strong> Anacleto, que se dispunha já a sair.<br />

– Meu pai, disse a viúva com voz muito comovida e suspen<strong>de</strong>ndo o velho,<br />

que já se achava na porta: meu pai, prometi-lhe que nunca mais me havia <strong>de</strong> ver<br />

pesarosa... pois bem; abençoe <strong>de</strong> coração a sua filha.<br />

Anacleto voltou-se com os olhos úmidos, e abençoou Mariana. Depois saiu.<br />

– Abençoou-me pela última vez! murmurou surdamente a viúva.<br />

E ficou estática... pasma... aterrada. Tinha a morte na alma.<br />

<strong>CAPÍTULO</strong> XLII<br />

<strong>OS</strong> REMORS<strong>OS</strong><br />

O CRIME mesmo, quando parece triunfar ou po<strong>de</strong>r fugir ao castigo dos<br />

homens, envolto nas sombras dos mistérios, é ainda assim mil vezes mais<br />

<strong>de</strong>sgraçado do que a inocência, que sucumbe.<br />

A inocência é sempre bela, sempre pura, sempre anjo aos olhos <strong>de</strong> Deus, que<br />

vê tudo, que vê o bem e o mal. A inocência espezinhada pelos homens, ou com<br />

nobreza os <strong>de</strong>spreza, ou chora doída <strong>de</strong> suas injustiças; mas seu coração se volta<br />

para o céu, e suas esperanças voam para a eternida<strong>de</strong>. Lá em cima o juízo dos<br />

homens é nada.<br />

A inocência é a virgem encantadora amada por Deus. Ele lhe paga cada<br />

lágrima com um triunfo. A glória que a espera é tanto mais subida quanto mais<br />

doloroso foi o seu martírio cá embaixo.<br />

E o crime?...<br />

O crime é sempre duas vezes formidavelmente castigado, sem contar com as<br />

penas e tormentos a que o po<strong>de</strong>m con<strong>de</strong>nar os homens.<br />

É castigado uma vez cá em baixo, e outras lá em cima. A sentença não tem<br />

apelação, nem na terra nem na eternida<strong>de</strong>; porque quem sentencia é o juízo seguro,<br />

justo e severo <strong>de</strong> Deus.<br />

Os castigos inventados pelos homens são nada. A que se reduzem esses<br />

castigos?... aos tormentos físicos, à dor. Tornam-se ineficazes, ou por momentâneos,<br />

ou porque o hábito <strong>de</strong> os sofrer os nulifica.<br />

O que é a forca ou a guilhotina?... Uma hora <strong>de</strong> terror, e um momento <strong>de</strong> dor.<br />

O que e a prisão com trabalhos?... Perguntai aos galés se no fim <strong>de</strong> um ano lhes<br />

pesam os ferros como no primeiro dia; se no fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos os seus sofrimentos<br />

são os do primeiro ano?...<br />

229

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!