18.04.2013 Views

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ligeira, e que não tenho juízo; mas olha, o que eu sei é que sou tua amiga.<br />

– Eu te creio, d. Mariquinhas.<br />

– Pois bem, sabe que compreendo alguma coisa <strong>de</strong> tua dor... não adivinho<br />

tudo, mas alguma coisa eu sei.<br />

– Que queres dizer?<br />

– Que não é a tua cabeça que está sofrendo.<br />

– Então o quê?...<br />

– É o teu coração.<br />

– D. Mariquinhas!<br />

– Basta! por agora nem mais uma palavra. Deixa-me arranjar teus cabelos...<br />

teremos tempo para conversar qualquer <strong>de</strong>stes dias.<br />

– Mas eu...<br />

– Silêncio! enxuga as tuas lágrimas. Que precisão há <strong>de</strong> que saibam lá<br />

embaixo que tu choraste?... sabes?... perguntar-te-iam, ou quereriam adivinhar por<br />

quê.<br />

A “Bela Órfã” abaixou a cabeça, e Mariquinhas começou a endireitar-lhe o<br />

cabelo.<br />

Quando acabava esse interessante trabalho, soaram embaixo os primeiros<br />

compassos da valsa.<br />

– Ouves?... disse Mariquinhas.<br />

– Sim, ouço.<br />

– Pois vamos <strong>de</strong>scer.<br />

– Para quê?...<br />

– Para dançar<br />

– Eu não dançarei hoje.<br />

– Oh! tornou Mariquinhas; mas é necessário dançar, é necessário rir, é<br />

necessário fingir; porque a moça que não finge, sofre muito neste mundo que mor<strong>de</strong>.<br />

– Oh! que mundo!...<br />

– Vamos.<br />

– Espera; olha bem para mim; po<strong>de</strong>rão <strong>de</strong>scobrir nos meus olhos que eu estive<br />

chorando?...<br />

Mariquinhas olhou <strong>de</strong> perto para Celina, foi aproximando o rosto, <strong>de</strong>u-lhe um<br />

beijo, e disse:<br />

– Teus olhos brilham... as lágrimas estão no coração. Desceram as duas<br />

amigas<br />

Quando, <strong>de</strong>ixando a janela em que haviam conversado, Mariana e Henrique<br />

tornavam à sala, Celina e Mariquinhas apareciam também.<br />

Eram dois amores que entravam ao mesmo tempo: o primeiro trazia a<br />

esperança nos olhos, e o segundo um tormento no coração.<br />

<strong>CAPÍTULO</strong> XXIII<br />

124

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!