OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
olhos do público; um documento que a con<strong>de</strong>na como... <strong>de</strong> que nome quer a senhora<br />
que eu me sirva?...<br />
– Senhor!... senhor!...<br />
– Por ora, pois, cumpre-lhe somente <strong>de</strong>spedir <strong>de</strong>sta casa a esse homem que eu<br />
<strong>de</strong>testo. Com razão ou sem ela, ame ele ou não a sua sobrinha, seja ou não amado<br />
enfim, eu não peço, eu quero que esse mancebo <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> vir aos serões do “Céu cor<strong>de</strong>-rosa”.<br />
Senhora, repito a palavra com que começamos a tratar <strong>de</strong>sta questão: – eu<br />
o exijo! e pronunciarei <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ssa a palavra que <strong>de</strong>ve terminar todas as nossas<br />
discussões doravante: – se não...<br />
– Oh! senhor! retire-se! exclamou Mariana com <strong>de</strong>sesperação; retire-se!<br />
<strong>de</strong>ixe-me em paz.<br />
Como dissemos, a porta da sala tinha sido fechada no começo <strong>de</strong>sta<br />
conferência.<br />
No momento em que Mariana exclamava – retire-se! – um velho <strong>de</strong> quimono<br />
preto se afastou mansamente <strong>de</strong>trás da porta, e recolheu-se a um canto do alpendre.<br />
Salustiano, e Mariana <strong>de</strong>spediram-se enfim... como dois sicários que<br />
acabavam <strong>de</strong> tratar <strong>de</strong> um crime.<br />
<strong>CAPÍTULO</strong> XVI<br />
A VELHA, O MOÇO E A MOÇA<br />
QUANDO Anacleto, Irias, Cândido e Celina entraram na sala do “Céu cor-<strong>de</strong>rosa”,<br />
já Mariana ali não se achava.<br />
Ou fosse para ocultar a perturbação, que por uma causa qualquer sentia, ou<br />
porque realmente se achasse fatigado, Anacleto convidou os dois habitantes do<br />
“Purgatório-trigueiro para cear com ele, e pedindo-lhes licença para <strong>de</strong>scansar<br />
alguns momentos, dirigiu-se ao quarto <strong>de</strong> Mariana.<br />
A viúva estava <strong>de</strong>itada e abatida. Queixou-se <strong>de</strong> que uma intempestiva e<br />
inesperada visita <strong>de</strong> Salustiano lhe exacerbara o incômodo <strong>de</strong> que poucas horas<br />
antes se tinha queixado.<br />
Anacleto não lhe disse uma palavra; <strong>de</strong>ixou-se cair em uma ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> braços<br />
e ficou triste e meditabundo, olhando para Mariana.<br />
O pai <strong>de</strong>sconfiava da filha.<br />
Mas haviam ficado na sala a velha Irias, Cândido e Celina.<br />
Estiveram <strong>de</strong>scansando, sem encetar a mais simples conversação durante<br />
algum tempo; os dois moços conservavam a sua melancolia silenciosa do passeio.<br />
Irias continuava a observá-los como fizera em toda a tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse dia.<br />
Até que enfim ela mesma quebrou o silêncio, dizendo:<br />
– Continuais a estar tristes, meus filhos?<br />
– Não, minha mãe, acudiu prontamente Cândido, estamos apenas fatigados.<br />
– Sim... passeamos muito, disse Celina.<br />
– E no entanto, em todo vosso passeio estivestes do mesmo modo, continuou<br />
88