OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
– E já sabe que é amada?...<br />
– Creio que o pensava <strong>de</strong>s<strong>de</strong> alguns dias; ontem porém teve a certeza <strong>de</strong> o ser.<br />
– Quem lhe revelou o segredo?...<br />
– Este seu criado.<br />
– Bravo, sr. Rodrigues; está representando um excelente papel.<br />
– Pois que querias tu que eu fizesse, João?... duas crianças tolas como eles são<br />
precisavam <strong>de</strong> quem lhes abrisse os olhos. E, sobretudo, não é verda<strong>de</strong> que convém<br />
terminar os nossos trabalhos? não crês que basta <strong>de</strong> provação?...<br />
– Eu não te crimino, Rodrigues; ao contrário acho que tens ido às mil<br />
maravilhas; tanto mais que dois trastes velhos como nós, <strong>de</strong>vemos dar graças a Deus<br />
por po<strong>de</strong>rmos ainda prestar para alguma coisa neste mundo.<br />
– Enfim eles se amam, repetiu Rodrigues.<br />
– Era natural.<br />
– Temos porém novida<strong>de</strong>s cem vezes mais importantes.<br />
– Vamos lá.<br />
– Realiza-se também a minha última previsão: o outro igualmente a ama.<br />
– Oh diabo! o caso vai-se complicando; e ela?<br />
– Despreza-o.<br />
– Está no seu direito. E ele teima?...<br />
– Faz mais do que isso.<br />
– Então o quê?<br />
– Quer impor-se.<br />
– Como?...<br />
– Ora como!... pois não adivinhas?... com a misteriosa influência que exerce<br />
sobre a viúva.<br />
– Quando eu digo que o caso se vai complicando!<br />
– Ontem o velho e a menina saíram a passeio. A viúva arranjou uma dor <strong>de</strong><br />
cabeça, e <strong>de</strong>ixou-se ficar em casa; daí a pouco chegou ele.<br />
– Bem; e <strong>de</strong>pois?<br />
– Fecharam-se na sala, e conversaram uma hora.<br />
– E tu?...<br />
– Ouvi tudo.<br />
– Bravo! és um herói.<br />
– Ele exigiu que a viúva fechasse a porta do “Céu cor-<strong>de</strong>-rosa ao pobre rapaz.<br />
– Por quê?...<br />
– Porque suspeita que a pequena o ama, e não quer ter um rival tão perto <strong>de</strong>la.<br />
– E a viúva?<br />
– Negou-se a cumprir a exigência.<br />
– E ele?...<br />
– Declarou-lhe formalmente que se ela não a cumprisse, perdê-la-ia no<br />
conceito público.<br />
– E finalmente...<br />
– Separaram-se sem haver <strong>de</strong>cidido coisa alguma.<br />
95