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OS DOIS AMORES Joaquim Manuel de Macedo CAPÍTULO I O ...

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Eu vou...<br />

XII<br />

Já compreendi tudo.<br />

A intriga me separa do homem que amo; a calúnia me nodoa... tudo está<br />

revelado.<br />

Minha tia fez crer ao mo<strong>de</strong>sto mancebo que o seu amor me afligia; que eu<br />

supunha a minha reputação em perigo; que ele era pobre e por isso indigno <strong>de</strong> mim.<br />

Fecharam em meu nome as portas do “Céu cor-<strong>de</strong>-rosa” no rosto do nobre<br />

mancebo. Oh! como não terá ele amaldiçoado a primeira hora em que me viu!<br />

Todavia... antes assim...<br />

Não sei quais sejam os <strong>de</strong>sígnios <strong>de</strong> minha tia; agora, porém, sinto-me com<br />

forças <strong>de</strong> assoberbar a tempesta<strong>de</strong>.<br />

Sequem as minhas lágrimas.<br />

Caluniam-me?... querem separar-me <strong>de</strong>le por meio da intriga?... pois bem;<br />

direi bem alto que o amo, quero que todos ouçam – eu o amo!<br />

Amo-o tanto como amei já as meiguices <strong>de</strong> minha mãe, e a bênção <strong>de</strong> meu<br />

pai, e como amo ainda agora a memória <strong>de</strong> ambos.<br />

É um amor puro e santo, que sai do âmago do coração, como um pensamento<br />

sai do seio da alma.<br />

É um amor puro e santo que embeleza a minha vida, como a aurora que se vai<br />

sorrindo no céu, como um sorriso que se vai abrindo nos lábios!...<br />

Oh! volta, meu amado, volta!<br />

Volta, para que eu seja outra vez como uma flor que se <strong>de</strong>sabotoa...<br />

Volta, para que eu não seja por mais tempo como a pomba que geme solitária.<br />

Volta!... eu te amo.<br />

***<br />

Quando o mancebo terminou a leitura da história do amor da “Bela Órfã”,<br />

sentiu que uma revolução profunda e completa se havia operado em todos os seus<br />

sentimentos.<br />

A paixão prorrompia <strong>de</strong> novo, o fogo mal amortecido pela intriga flamejava<br />

com dobrado ímpeto.<br />

Os olhos <strong>de</strong> Cândido brilhavam, suas faces pálidas estavam enrubescidas, e<br />

seus lábios se dilatavam e sorriam ante o aspecto da felicida<strong>de</strong>.<br />

Beijou mil vezes aquelas páginas, que guardavam os pensamentos, e por on<strong>de</strong><br />

haviam <strong>de</strong>slizado os <strong>de</strong>licados <strong>de</strong>dos da “Bela Órfã”; apertou-as contra o coração<br />

exclamando:<br />

– Eu sou feliz!... eu venço o meu <strong>de</strong>stino!...<br />

Lançou mão da pena e começou a escrever com o ardor e o interesse <strong>de</strong> um<br />

poeta apaixonado.<br />

O que escrevia ele?<br />

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