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lolita_vladimir_nabokov

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Como um farmacêutico prestável me informou mais tarde, a<br />

pílula cor de púrpura nem sequer pertencia à grande e<br />

nobre família dos barbituratos, e, embora pudesse provocar<br />

sono a um neurótico convencido de que se tratava de uma<br />

droga forte, era um sedativo tão fraco que não afectava<br />

durante muito tempo uma ninfita desconfiada, por muito<br />

fatigada que se sentisse. Quer o médico de Ramsdale tenha<br />

sido um charlatão, quer um velho patife astuto, não<br />

interessa, realmente - nem interessou, então. O que<br />

interessava era que eu tinha sido enganado.<br />

Quando Lolita abriu de novo os olhos, compreendi que,<br />

produzisse a droga efeito, mais tarde, ou não, a segurança<br />

com a qual eu contara era espúria. Lentamente, Lolita virou<br />

a cabeça e deixou-a cair na sua quantidade injustamente<br />

grande de almofada. Deixei-me ficar muito quieto na minha<br />

tirinha de cama, a olhar para o seu cabelo despenteado,<br />

para a mancha clara de carne ninfítica, onde se distinguiam<br />

vagamente meio quadril e meio ombro, e tentei avaliar a<br />

profundidade do seu sono-pelo ritmo da sua respiração.<br />

Passou algum tempo, nada mudou e eu achei que me podia<br />

arriscar a aproximar-me um bocadinho mais daquela carne<br />

encantadora e enlouquecedora. Mal me cheguei, porém,<br />

para as suas quentes cercanias, a respiração dela<br />

interrompeu-se e eu tive o odioso pressentimento de que a<br />

pequena Dolores estava bem acordada e desataria aos<br />

gritos se lhe tocasse com alguma parte da minha baixeza.<br />

Peço-lhe, leitor, seja qual for o seu exaspero com o<br />

compassivo, morbidamente sensitivo e infinitamente<br />

circunspecto herói do meu livro, não salte estas páginas<br />

essenciais!<br />

Imagine-me, pois não existirei se não me imaginar; tente<br />

distinguir a gazela existente em mim, a tremer na floresta<br />

da minha própria iniquidade; sorria até, um pouco. No fim<br />

de contas, não há mal nenhum em sorrir. Por exemplo<br />

(quase escrevi prixemplo), não tinha onde descansar a<br />

cabeça e um ataque de azia (chamam àqueles fritos<br />

Franceses,, grand Dieu!) aumentava o meu desconforto.

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