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lolita_vladimir_nabokov

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faces, sorriu-lhes docemente, como nunca sorria à minha<br />

orquidácea virilidade - sim, porque em certo sentido a minha<br />

Lo tinha ainda mais medo da polícia do que eu -, e, quando<br />

os amáveis polícias nos perdoaram e nós partimos<br />

servilmente, as pálpebras da minha querida fecharam-se e<br />

palpitaram, enquanto ela fingia grande prostração.<br />

Nesta altura, tenho uma curiosa confissão a fazer. Vão-se<br />

rir, mas afirmo sinceramente que nunca consegui saber qual<br />

era, ao certo, a situação, do ponto de vista jurídico. E ainda<br />

não sei. Oh, tomei conhecimento de algumas coisitas, lá isso<br />

tomei! O Alabama proíbe ao tutor que mude a residência da<br />

sua pupila sem uma ordem do tribunal; o Minesota, a quem<br />

tiro o chapéu, proclama que, quando um parente assume a<br />

custódia permanente de qualquer criança com menos de<br />

doze anos, a autoridade do tribunal não tem nada a ver com<br />

o assunto.<br />

Pergunta: o padrasto de uma sufocantemente adorável<br />

adolescente, o padrasto apenas com um mês de tal cargo,<br />

um viúvo neurótico e maduro, de pequenos recursos mas<br />

independente, tendo como antecedentes os parapeitos da<br />

Europa, um divórcio e alguns manicómios, tal padrasto deve<br />

ser considerado um parente e, logo, um tutor natural? E,<br />

não sendo assim, deveria eu - e ousaria -, razoavelmente,<br />

notificar uma junta social qualquer, apresentar um<br />

requerimento (como se apresenta um requerimento?) e<br />

permitir que um agente do tribunal investigasse a vida do<br />

humilde e suspeito Humbert e da perigosa Dolores Haze? Os<br />

muitos livros acerca do casamento, estupro, adopção, etc.,<br />

que culposamente consultei nas bibliotecas públicas de<br />

grandes e pequenas cidades, não me disseram nada, além<br />

de insinuarem sinistramente ser o Estado o supertutor de<br />

crianças menores. Pilven e Zapel, se me recordo bem dos<br />

seus nomes, ignoraram por completo, num impressionante<br />

volume acerca da faceta jurídica do casamento, padrastos<br />

com raparigas órfãs nas mãos e nos joelhos. A minha<br />

melhor amiga, uma monografia do serviço social (Chicago,<br />

1936), retirada para mim, com grande esforço, de um<br />

recesso poeirento, por uma solteirona inocente, dizia: "Não

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