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lolita_vladimir_nabokov

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quantidade de tempo (que estaria ela a tramar lá em<br />

baixo?) a arranjar a cama, de modo que desse a impressão<br />

de ser o ninho abandonado de um pai impaciente e da sua<br />

filha maria-rapaz, e não o cenário da saturnal de um exrecluso<br />

e duas velhas prostitutas gordas. Depois acabei de<br />

me vestir e pedi que mandassem o encanecido mandarete<br />

buscar as malas.<br />

131<br />

Corria tudo bem. No átrio, afundada numa poltrona<br />

vermelho-sangue excessivamente estofada, Lo estava<br />

absorta na leitura de uma revista cinematográfica. Um tipo<br />

da minha idade e fato de tweed (o ambiente do hotel<br />

mudara, da noite para o dia, para uma atmosfera espúria de<br />

nobreza rural) observava a minha Lolita por cima do charuto<br />

apagado e de um velho jornal.<br />

Ela usava os soquetes brancos da praxe, os sapatos de<br />

presilha e o vestido estampado, de cores vivas, com decote<br />

quadrado. A luz de um velho candeeiro realçava-lhe a<br />

penugem dourada dos membros tépidos e bronzeados. Ali<br />

estava, de pernas cruzadas descuidadamente e os olhos<br />

claros a deslizar pelas linhas, com um ou outro pestanejo. A<br />

mulher de Bill adorara-o de longe, muito antes de se<br />

conhecerem: na verdade, ela costumava admirar<br />

secretamente o famoso e jovem actor, enquanto ele comia<br />

taças de sorvete na Schwobs. Não poderia haver nada de<br />

mais infantil do que o seu nariz arrebitado e a sua cara<br />

sardenta, ou a mancha arroxeada do pescoço nu, onde um<br />

vampiro de conto de fadas se saciara, ou ainda o movimento<br />

inconsciente da sua língua a explorar uma fogagenzinha<br />

rosada à volta dos lábios túrgidos; não poderia haver nada<br />

de mais inofensivo do que ler a história de Jill, uma starlet<br />

cheia de energia, que fazia a sua própria roupa e estudava<br />

literatura séria; não poderia haver nada de mais inocente do<br />

que o risco daquele lustroso cabelo castanho, com um brilho<br />

de seda nas têmporas; não poderia haver nada de mais<br />

ingénuo... Mas que enlouquecedora inveja o lúbrico

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