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lolita_vladimir_nabokov

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Instalá-la-íamos no quarto da Lo. Aliás, tenciono transformar<br />

aquele buraco num quarto de hóspedes. É o mais pequeno e<br />

mais frio da casa.<br />

- De que estás a falar? - perguntei, e a pele das minhas<br />

faces esticou-se (dou-me ao trabalho de anotar este<br />

pormenor apenas porque acontecia o mesmo à pele da<br />

minha filha quando ela sentia o que eu sentia naquele<br />

momento: incredulidade, repugnância, irritação).<br />

- Ligas importância a associações românticas? - indagou a<br />

minha mulher, aludindo à sua primeira rendição.<br />

- Não, com os diabos! Só gostava de saber onde tencionas<br />

meter a tua filha, quando arranjares a tua criada ou o teu<br />

hóspede.<br />

- Ah! - exclamou Mrs. Humbert, sonhadora e sorridente,<br />

fazendo coincidir o Ah! com um erguer de sobrancelhas e<br />

uma suave exalação de ar. - A pequena Lo não entra nos<br />

meus planos, não, não entra de modo algum nos meus<br />

planos. A pequena Lo irá direitinha do acampamento para<br />

uma boa escola interna, com disciplina rigorosa e bom<br />

ensino religioso. E depois... Beardsley College. Já tenho tudo<br />

preparado, não te preocupes.<br />

E prosseguiu, dizendo que ela, Mrs. Humbert, teria de<br />

vencer a sua preguiça habitual e escrever à irmã de Miss<br />

Phalen, que ensinava em St. Algebra. O lago cintilante<br />

surgiu aos nossos olhos. Disse que ia buscar os óculos de<br />

sol, de que me esquecera no carro, e depois a alcançaria.<br />

Sempre considerara o desesperado torcer de mãos um gesto<br />

fictício - obscura consequência, quiçá, de qualquer ritual<br />

medievo. Mas, ao embrenhar-me na floresta para uns<br />

momentos de desespero e de desesperada meditação, esse<br />

gesto (olhai, Senhor, para estas cadeias!) seria o que melhor<br />

se coadunaria com a muda expressão do meu estado de<br />

espírito.<br />

Se Charlotte fosse Valéria, eu saberia como manejar a<br />

situação e manejar é precisamente a palavra que pretendo<br />

usar.<br />

Nos bons velhos tempos, bastava-me torcer o gordo e frágil<br />

pulso de Valechka (aquele sobre o qual caíra ao ser

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