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lolita_vladimir_nabokov

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indivíduo, quem quer que fosse - por pensar nisso, pareciase<br />

um pouco com o meu tio suíço Gustavo, também grande<br />

admirador de le découvert -, experimentaria se soubesse<br />

que os meus nervos todos ainda vibravam ao recordar o<br />

contacto do corpo dela - o corpo de algum demónio imortal<br />

disfarçado de rapariguinha.<br />

O rosado suíno Mr. Swoon tinha a certeza absoluta de que a<br />

minha mulher não telefonara? Tinha. Se ela telefonasse,<br />

faria o favor de lhe dizer que fôramos para casa da tia<br />

Clara?<br />

Faria, sim senhor. Paguei a conta e fui arrancar Lo à<br />

poltrona. Foi a ler até ao carro. Sempre a ler, foi conduzida<br />

a um dos chamados cafés, alguns quarteirões ao sul. Oh,<br />

comeu muito bem! Até pôs a revista de parte para comer,<br />

mas uma estranha apatia substituíra a sua vivacidade<br />

habitual. Sabedor de que a pequena Lo podia ser muito<br />

desagradável, quando queria, preparei-me para isso, sorri e<br />

aguardei uma tempestade. Não tomara banho, não me<br />

barbeara e não tivera nenhuma actividade intestinal. Os<br />

meus nervos estavam em franja. Não me agradou o modo<br />

como a minha amantezinha encolheu os ombros e dilatou as<br />

narinas, quando tentei estabelecer uma conversa casual. A<br />

Phyllis soubera do que se passava, antes de ir juntar-se aos<br />

pais no Maine?<br />

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- perguntei, sorrindo. "Olha, deixemos esse assunto em<br />

paz", respondeu-me Lo, com uma careta de choro.<br />

Tentei, a seguir - igualmente sem êxito, apesar do muito<br />

que estalei os lábios, a fingir entusiasmo -, interessá-la no<br />

mapa rodoviário. O nosso destino era, permiti que o lembre<br />

ao meu paciente leitor, cujo temperamento dócil Lo devia<br />

ter copiado, o nosso destino era, dizia eu, a alegre<br />

cidadezinha de Lepingville, algures próximo de um hipotético<br />

hospital. Tal destino era, em si mesmo, perfeitamente<br />

arbitrário (como, ai de mim!, tantos outros viriam a ser), e<br />

todo eu tremia só de pensar como havia de manter todo

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