Comentário de Salmos - Vol 4

Salmos 119 • 223
de disciplina é-nos, com certeza, muito necessário.
Visto que a mortificação da carne é o primeiro passo na obediência;
e todos os homens naturalmente não se inclinam à mortificação da
carne, não nos surpreende o fato de que Deus nos conduz ao senso de
nosso dever mediante aflições Variadas. Sim, como a carne, de tempo
em tempo, se torna rebelde, mesmo quando parece estar domada, não
nos surpreendemos em encontrá-Lo sujeitando-nos reiteradamente
à vara. Isto é feito de maneiras diferentes. Deus humilha alguns com
pobreza; outros, com opróbrio; outros, com problemas domésticos;
ainda outros, com labores difíceis e penosos. Assim, segundo a diversidade
dos erros aos quais nos inclinamos, Ele aplica a cada um seu
remédio apropriado. Agora fica claro quão proveitosa é a verdade contida
nesta confissão.
O profeta fala de si mesmo como o fez Jeremias [31.18], referindo-se
a si mesmo como um novilho ainda não domado. No entanto o
salmista põe diante de nós uma imagem da rebelião que era natural
em todos nós. Deveras seríamos muito ingratos se o fruto que cumulamos
das disciplinas não suavizasse ou mitigasse o amargor delas.
Enquanto somos rebeldes contra Deus, vivemos no estado da mais
profunda miséria. Ora, o único meio pelo qual Ele nos inclina e nos
doma à obediência é a ministração de instrução, quando nos aplica
as suas disciplinas. O profeta, ao mesmo tempo, nos ensina, por meio
de seu exemplo, que, se Deus fornece evidência de sua disposição de
que nos tornemos seus discípulos, pelos sofrimentos que Ele usa para
subjugar nossa obstinação, devemos pelo menos fazer tudo que nos
for possível para sermos mansos e, deixando de lado toda nossa obstinação,
tomemos espontaneamente o jugo que ele nos impõe.
O versículo seguinte não precisa de explicação, sendo quase
do mesmo teor que o último versículo da primeira oitava. Ele roga a
Deus que exerça sua bondade em seu favor, não por aumentar suas
riquezas e honras, ou por saturá-lo de deleites, e sim por capacitá-Lo
a fazer progresso no conhecimento da lei. Quase toda a humanidade
é acostumada a implorar o exercício da bondade divina para com ela,