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Jair realizou seu ofício <strong>de</strong> juiz <strong>no</strong> território <strong>de</strong> Gilea<strong>de</strong>, ao leste do Jordão, durante 22 a<strong>no</strong>s. o<br />
fato <strong>de</strong> que tivesse uma família <strong>de</strong> 30 filhos indica não só uma ostentosa poligamia, senão<br />
também seu nível e sua posição <strong>de</strong> riqueza na cultura da época.<br />
A apostasia <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo prevaleceu em Israel, voltado ao culto <strong>de</strong> Baal e outras <strong>de</strong>ida<strong>de</strong>s pagãs. A<br />
opressão <strong>de</strong>sta época provém <strong>de</strong> duas direções: os filisteus pressionavam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o sudoeste e os<br />
amonitas invadiram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o oriente. A liberação da Transjordânia e sua zona chegou sob a<br />
li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> Jefté.<br />
A causa <strong>de</strong> ser filho <strong>de</strong> uma prostituta, Jefté foi con<strong>de</strong>nado ao ostracismo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua<br />
comunida<strong>de</strong> familiar em ida<strong>de</strong> precoce. Chegou a ser um chefe <strong>de</strong> bandoleiros ou capitão <strong>de</strong><br />
foragidos em Tobe, que provavelmente estava situada ao <strong>no</strong>r<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Gilea<strong>de</strong>. Quando os<br />
gileaditas buscaram um lí<strong>de</strong>r, foi chamado Jefté. Antes <strong>de</strong> aceitar esta <strong>no</strong>meação, se fez um<br />
solene pacto mediante o qual os anciãos gileaditas o reconheceram como chefe e lí<strong>de</strong>r.<br />
Quando Jefté apelou aos amonitas, estes respon<strong>de</strong>ram com a força. Antes <strong>de</strong> apresentar<br />
batalha, fez um voto em que se obrigava a cumpri-lo, caso voltar vitorioso.<br />
Fortificado pelo Espírito do Senhor, Jefté obteve uma gran<strong>de</strong> vitória, <strong>de</strong> forma que os <strong>israel</strong>itas<br />
foram liberados dos amonitas, que os haviam oprimido durante <strong>de</strong>zoito a<strong>no</strong>s.<br />
Quando Efraim protestou que não os tinham chamado para tomarem parte da batalha contra<br />
os amonitas, Jefté soube respon<strong>de</strong>r militarmente com seu exército.<br />
Sacrificou Jefté realmente a sua filha em cumprimento do voto que havia pronunciado?<br />
Naquele dilema, não teria agradado certamente a Deus que se realizasse um sacrifício huma<strong>no</strong>,<br />
ação que em nenhum lugar da Escritura tem a divina aprovação. De fato, este foi um dos gran<strong>de</strong>s<br />
pecados pelos quais os cananeus <strong>de</strong>viam ser exterminados. Por outra parte, como podia agradar a<br />
Deus, não cumprindo seu voto? Embora os votos em Israel eram voluntários, uma vez que uma<br />
pessoa fazia um voto, estava sob a obrigação <strong>de</strong> cumpri-lo (Nm 6.1-21). A clara implicação em<br />
Juízes 11 indica que Jefté cumpriu o seu (versículo 39). Sua maneira <strong>de</strong> fazê-lo está sujeita a várias<br />
interpretações.<br />
Que os lí<strong>de</strong>res <strong>israel</strong>itas não se conformavam com a religião pura <strong>no</strong>s dias dos Juízes, resulta<br />
aparente <strong>no</strong>s registros bíblicos 119 . Jefté, que tinha um passado meta<strong>de</strong> cananeu, pô<strong>de</strong> ter-se<br />
conformado com a execução do seu voto, prevalecendo os costumes pagãos, sacrificando sua<br />
filha 120 . Devido a que as montanhas eram consi<strong>de</strong>radas como símbolos da fertilida<strong>de</strong> pelos<br />
cananeus, sua filha foi às montanhas a guardar luto por sua virginda<strong>de</strong> com objeto <strong>de</strong> evitar<br />
qualquer possível cessação da fertilida<strong>de</strong> da terra 121 . Periodicamente, durante cada a<strong>no</strong>, as<br />
donzelas <strong>israel</strong>itas empregavam quatro dias lembrando o luto da moça sacrificada 122 . Se a<br />
familiarida<strong>de</strong> Jefté com a lei o <strong>de</strong>ixou ciente do <strong>de</strong>sgosto <strong>de</strong> Deus com os sacrifícios huma<strong>no</strong>s, ele<br />
pô<strong>de</strong> ter <strong>de</strong>dicado sua filha ao serviço do tabernáculo 123 . Assim fazendo, pô<strong>de</strong> ter cumprido com<br />
seu voto e conformado sua atuação à idéia essencial da completa consagração significada na<br />
oferta <strong>de</strong> fogo. Já que sua filha era única, Jefté per<strong>de</strong>u todo o direito <strong>de</strong> suas esperanças na<br />
posterida<strong>de</strong> 124 . Deste modo, pô<strong>de</strong> ter conjugado suas obrigações do cumprimento do voto<br />
119 Gi<strong>de</strong>ão fez um éfo<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouro que conduziu os <strong>israel</strong>itas à idolatria. A vida <strong>de</strong> Sansão não foi, <strong>de</strong> maneira nenhuma, um<br />
exemplo <strong>de</strong> religião pura.<br />
120 Esta opinião tem sido sustentada por intérpretes ju<strong>de</strong>us e cristãos até o século XII. Para um completa discussão, ver o<br />
"Intemational Critical Commentary of Judges" por George Foote Moore (New York: Scribner's, 1895), pp. 301-305. Ver<br />
também F. F. Bruce, "Judges" en The New Bible Commentary, p. 250. Ver tambén "Mo<strong>de</strong>rn Science and the Christian<br />
Faith" (Wheaton: Van Kampen. 1948), pp. 134-135.<br />
121 Para a discussão dos ritos da fertilida<strong>de</strong>, ver J. D. Frazer, "The Gol<strong>de</strong>n Gods" (Londres: MacMillan & Co. 1890).<br />
122 O Dr. Dwight W. Young sugere, em apoio <strong>de</strong>sta opinião, que a problemática palavra "shana" é provavelmente um aramaismo<br />
que significa "repetir", "refazer", e está relacionada com a palavra hebraica aShana.<br />
Segundo o dicionário Strong, שָׁנָה" shaná" significa "a<strong>no</strong>", como uma revolução <strong>de</strong> tempo: anualmente, consecutivo (N. da<br />
T.)<br />
123 Para esta questão, ver C. F. Keil, em seu comentário <strong>de</strong> "Judges", pp. 388-395. David Kimchi (siglo XII) e outros rabi<strong>no</strong>s<br />
aceitaram este ponto <strong>de</strong> vista, comparando a Jefté e sua ação com a experiência <strong>de</strong> Abraão, on<strong>de</strong> o sacrifício huma<strong>no</strong><br />
não foi realmente executado.<br />
124 A familiarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jefté com a história <strong>de</strong> Israel, como registrada <strong>no</strong> livro <strong>de</strong> Números, fica evi<strong>de</strong>nte em Nm 11.12-28.<br />
O sacrifício huma<strong>no</strong> estava proibido (Lv 20.2). viver sem filhos ou carecer <strong>de</strong> her<strong>de</strong>iros era consi<strong>de</strong>rado uma calamida<strong>de</strong><br />
em Israel: Ana (1 Sm 1) <strong>de</strong>dicou seu filho ao serviço do Tabernáculo. Para referências inci<strong>de</strong>ntais para as mulheres <strong>de</strong><br />
tais serviços, ver Êx 38.8 e 1 Sm 2.22.<br />
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