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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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sem ambiguidade o conteú<strong>do</strong> ideológico: «Colonisation. Pour en finir avec la repentance».<br />

O primeiro contributo (Daniel Lefeuvre, «Une mission de civilisation») não deixa margem<br />

para dúvida: o Texto encontrou novamente maneira de se atualizar e desta vez num tipo de<br />

publicação que contribui para a sua (ainda) maior amplificação. Aqui, como nas ocorrências<br />

analisadas, a concessão momentânea (a colonização foi violenta, mas…) permite a<br />

reciclagem de imagens conhecidas:<br />

Faut-il nier les bienfaits de cette paix <strong>colonial</strong>e qui apporta aux populations une<br />

sécurité dans la vie quotidienne que la plupart n’avait jamais connue? Qui permit,<br />

également, la suppression des coutumes barbares pratiquées dans certaines régions<br />

d’Afrique, notamment le cannibalisme et les sacrifices humains […]. (Lefeuvre,<br />

2009: 18)<br />

O autor, Professor de História na Universidade de Paris VIII, especialista da<br />

Argélia <strong>colonial</strong>, aproveitou manifestamente a oportunidade de divulgar junto de um<br />

público mais alarga<strong>do</strong> o seu ponto de vista sobre um perío<strong>do</strong> <strong>colonial</strong> encara<strong>do</strong> como<br />

benéfico para as populações locais. Assim, amontoa as representações que têm contribuí<strong>do</strong><br />

para a lenta sedimentação da ideia que se tem <strong>do</strong> <strong>colonial</strong>ismo num certo senso comum:<br />

construção de infraestruturas que foram legadas aos países independentes, introdução de<br />

novas culturas, emancipação <strong>do</strong>s escravos e luta contra o tráfico, etc.<br />

Por fim, é conhecida a disponibilidade destas imagens e representações<br />

independentemente <strong>do</strong> seu lugar de enunciação, ou seja, atualizam-se, propagam-se,<br />

naturalizam-se tanto em Paris e Bruxelas como em Lisboa. No caso português, a<br />

(re)produção de imagens e estereótipos insere-se no contexto de uma produção discursiva<br />

importante que visava convencer to<strong>do</strong>s os quadrantes da sociedade da importância <strong>do</strong><br />

<strong>colonial</strong>ismo para a nação. Alexandre (1995), Castro Henriques (2004), Calafate Ribeiro<br />

(2004) e Rosas (1995) evidenciaram a existência de um Texto com especificidades sui generis,<br />

um Texto que servia sobretu<strong>do</strong> para agregar a nação em torno de um projeto e que, apesar<br />

das suas pretensões, muitas vezes pouco ou nada tinha a ver com as realidades da ocupação<br />

portuguesa de partes de África. Verifica-se nos textos académicos cita<strong>do</strong>s a proliferação de<br />

termos que remetem para um <strong>colonial</strong>ismo encara<strong>do</strong> como representação, como Grande<br />

Narrativa com pretensão holística, mais <strong>do</strong> que para uma prática social. Alexandre insiste<br />

no papel central de <strong>do</strong>is mitos (o mito <strong>do</strong> El<strong>do</strong>ra<strong>do</strong> e o da herança sagrada) para apontar<br />

para a especificidade <strong>do</strong> imperialismo português, enquanto Rosas prefere falar <strong>do</strong><br />

«paradigma ideológico <strong>colonial</strong>» ou, no mesmo artigo, de «largo investimento ideológico»<br />

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