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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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universitário, diminuição <strong>do</strong> papel das ordens religiosas e introdução <strong>do</strong> ensino público<br />

nalgumas colónias. Porém, para Jamfa, estas medidas não melhoraram substancialmente a<br />

qualidade <strong>do</strong> ensino:<br />

Malgré ces nombreuses reformes du système éducatif <strong>colonial</strong>, les résultats sont<br />

demeurés très mitigés, à cause de la volonté manifeste de la puissance colonisatrice<br />

de ne pas susciter dans les territoires nationaux un véritable éveil intellectuel.<br />

L’école est restée un instrument du pacte <strong>colonial</strong>. (Jamfa, 2005: 38-39)<br />

A principal consequência da falta de quadros locais é conhecida: os novos Esta<strong>do</strong>s<br />

precisaram <strong>do</strong> apoio das antigas potências coloniais para a sua administração. No caso de<br />

Angola, Hodges mostrou de facto que até 1975 toda a estrutura administrativa era<br />

composta quase exclusivamente por portugueses. Como Lisboa investiu pouco na<br />

formação escolar, houve falta de quadros locais no perío<strong>do</strong> pós-independência (assim em<br />

1973, 73% <strong>do</strong>s estudantes da universidade criada em 1963 eram estrangeiros), sobretu<strong>do</strong><br />

depois da saída em massa <strong>do</strong>s quadros portugueses (Birmingham, 2002: 150; Chabal, 2002:<br />

65; Hodges, 2004: 49). No Congo belga, Stengers atribui igualmente a falta de quadros à<br />

política escolar <strong>do</strong> coloniza<strong>do</strong>r. Por razões semelhantes às <strong>do</strong> poder <strong>colonial</strong> português,<br />

Bruxelas deixou o ensino nas mãos das missões. 105 Estas tinham toda a liberdade na<br />

organização <strong>do</strong>s programas, o governo limitan<strong>do</strong>-se a subsidiar o sistema escolar, o que<br />

teve como principal consequência o desenvolvimento exclusivo de um ensino primário em<br />

línguas locais que devia, por um la<strong>do</strong>, facilitar a evangelização <strong>do</strong> país e, por outro,<br />

responder às necessidades de mão-de-obra (Stengers, 2005: 208). Na altura da<br />

independência, o jovem país contava com 16 universitários, e como Angola, her<strong>do</strong>u uma<br />

administração composta esmaga<strong>do</strong>rmente por belgas.<br />

Outro fator que ajuda a perceber as razões da crise <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong> é a<br />

introdução da territorialidade e das fronteiras rígidas. De acor<strong>do</strong> com Jamfa, num ponto<br />

que é atualmente consensual entre os académicos, o espaço de soberania que o Esta<strong>do</strong> pós-<br />

<strong>colonial</strong> her<strong>do</strong>u <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>colonial</strong> não facilitou a sua administração, pois as delimitações<br />

não resultavam da vontade das populações locais, mas antes das relações de força<br />

existentes entre os coloniza<strong>do</strong>res:<br />

105 «Jusqu’en 1946, ce monopole a été pratiquement absolu: toutes les écoles du Congo étaient, soit des écoles<br />

de missions, soit des écoles desservies par des missionnaires» (Stengers, 2005: 207). Ki-Zerbo confirma o<br />

facto: «Les missions, surtout l’Église catholique, avaient la haute main sur le système scolaire […]» (1978:<br />

529).<br />

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