24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

aplicação – o que equivale a globalizar um mo<strong>do</strong> local de leitura –, mas para a matizar e até<br />

corrigir e modificar.<br />

Como se vê, a perspetiva comparativa da literatura e a teoria pós-<strong>colonial</strong> da<br />

literatura articulam-se sem grande dificuldade: ambas favorecem a pluralidade de<br />

abordagens no estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s fenómenos literários (o que tem como corolário a recusa de uma<br />

teoria da literatura com pretensões totalizantes), a convocação e o cruzamento de saberes<br />

(to<strong>do</strong>s os autores consulta<strong>do</strong>s insistem na necessidade tanto na ciência comparativa da<br />

literatura como no estu<strong>do</strong> das literaturas pós-coloniais da articulação entre ciências sociais e<br />

humanas 32 ), a recusa da ideia de fronteiras estanques, impermeáveis às influências<br />

recíprocas, tanto entre campos literários (como o dizia há pouco, as obras acabam sempre<br />

por circular) como no seio de um campo literário determina<strong>do</strong> (para ambas já não faz<br />

senti<strong>do</strong> a fronteira entre literatura de grande produção e literatura de produção restrita).<br />

São estes elementos que se encontram na definição proposta por um <strong>do</strong>s nomes de<br />

referência na área da literatura comparada:<br />

La littérature comparée est à entendre par conséquent comme une science comparative<br />

de la littérature, une branche des sciences humaines et sociales qui se propose<br />

d’étudier les productions humaines signalées comme œuvres littéraires, sans que<br />

soit définie au préalable quelque frontière, notamment linguistique, que ce soit.<br />

(Chevrel, 2006: 4)<br />

Esta reflexão sobre os fundamentos da ciência comparativa da literatura aponta<br />

para a estreita ligação entre esta e a teoria da literatura. Como o sublinhou Buescu, joga-se<br />

aqui algo de fundamental, pois é indissociável no investiga<strong>do</strong>r a construção <strong>do</strong> seu objeto<br />

de estu<strong>do</strong> e a reflexão sobre o ato mesmo de construir. Mais <strong>do</strong> que meto<strong>do</strong>logia, pode<br />

falar-se de facto de uma reflexão de tipo epistemológico. Assim a ciência comparativa da<br />

literatura «opera não apenas sobre os objetos analíticos seleciona<strong>do</strong>s mas também, e de<br />

forma necessária, sobre o próprio campo cognitivo enquanto constantemente objeto de<br />

32 Eis, por exemplo, o que dizia Moura a este propósito: «La vertu critique du post<strong>colonial</strong>isme réside dans<br />

ses interactions avec d’autres pensées et d’autres pratiques d’études» (Moura, 2007 b : 117). A convergência<br />

entre disciplinas faz parte da definição da literatura comparada por uma das especialistas de referência:<br />

«<strong>do</strong>mínio cognitivo de cruzamento interdiscursivo, interdisciplinar e intersemiótico» (Buescu, 2001: 93). Esta<br />

necessidade de redefinição das fronteiras entre disciplinas encontra-se igualmente numa contribuição que visa<br />

repensar os Estu<strong>do</strong>s Culturais bem como a relação destes com os estu<strong>do</strong>s literários. Ribeiro e Ramalho<br />

concebem os Estu<strong>do</strong>s Culturais como «metadiscurso integra<strong>do</strong>r» com capacidade para estabelecer pontos de<br />

contacto com outras disciplinas. Defendem ainda um pensamento transversal, um pensamento na fronteira,<br />

«capaz de se situar nos espaços de articulação». Tal significa que os estu<strong>do</strong>s literários, longe de se diluírem no<br />

contacto com outras disciplinas, vão, em função <strong>do</strong> seu objeto, convocar uma «pluralidade de saberes»<br />

(Ribeiro e Ramalho, 2001: 74).<br />

30

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!