24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

VI. 8. ANTOINE M’A VENDU SON DESTIN, MOI, VEUVE DE<br />

L’EMPIRE, UNE CHOUETTE PETITE VIE BIEN OSÉE: A<br />

POSSIBILIDADE DE UMA TRAGÉDIA DO PODEROSO<br />

Na segunda metade <strong>do</strong>s anos 1980 e no início <strong>do</strong>s anos 1990, Sony Labou Tansi<br />

continuaria a sua representação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong> em tragédias que encenam<br />

sobretu<strong>do</strong> personagens de poder. Entre elas, destacam-se Antoine m’a vendu son destin (1986),<br />

Moi, veuve de l’empire (1987) e Une chouette petite vie bien osée (datada de 1992, publicada em<br />

1995), textos que pertencem de facto ao registo trágico (aliás, o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> paratexto das<br />

duas primeiras deixou clara a intenção <strong>do</strong> autor a este propósito) e que evidenciam os<br />

elementos fundamentais da sintaxe trágica (as advertências, a procura da origem da culpa, o<br />

conflito entre normas e vontades…). Porém, a diferença em relação à produção anterior<br />

reside no estatuto da personagem trágica, pois da representação <strong>do</strong> sujeito subalterniza<strong>do</strong><br />

como personagem trágica, vítima <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong> como macro-estrutura, passa-se<br />

para o polo oposto <strong>do</strong> espectro social. Agora o ser sofre<strong>do</strong>r, como aliás acontece nas<br />

tragédias de Shakespeare que Tansi reescreve na altura, é o homem de poder, o homem que<br />

cai por causa das tensões que atravessam os polos da autoridade.<br />

Nota-se desde já que à medida que a obra avança, Sony Labou Tansi tende a<br />

universalizar cada vez mais o seu propósito: o espaço teatral nas três peças é distópico<br />

mesmo se o continente às vezes cita<strong>do</strong> é o africano; os antropónimos não permitem a<br />

associação a um referente geograficamente determina<strong>do</strong> (Riforoni e Moroni em Antoine m’a<br />

vendu son destin soam vagamente italiano; em Moi, Veuve de l’empire os nomes das personagens<br />

evocam de mo<strong>do</strong> grotesco as personagens de Shakespeare; nota-se uma completa<br />

indeterminação com L’espèce d’homme, personagem principal de Une chouette petite vie bien<br />

osée). Em vários momentos, no entanto, certas personagens aludem a África como vítima de<br />

uma história contada por outros, a um continente a que foi veda<strong>do</strong> durante séculos o<br />

acesso à palavra. Veremos que estas tragédias aludem à história como sen<strong>do</strong> a voz <strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>minantes, mas também à história como possibilidade de recuperar uma certa dignidade<br />

quan<strong>do</strong> escrita pelos <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s ou pelas <strong>do</strong>minadas, como é o caso com Cleópatra em<br />

Moi, veuve de l’empire.<br />

292

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!