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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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Por outro la<strong>do</strong>, houve no Norte uma transformação radical <strong>do</strong> papel da fronteira,<br />

que passou da marcação/afirmação da soberania nacional, com um forte cunho militar, a<br />

um lugar de controlo, de contenção e de rejeição <strong>do</strong>s imigrantes ilegais, com um forte<br />

cunho policial. O processo de unificação europeia e o seu corolário de abolição interna das<br />

fronteiras, ou melhor, da sua deslocação para Leste e para Sul, acelerou ainda mais este<br />

fenómeno. Trata-se de uma deslocação que foi acompanhada de um reforço tecnológico <strong>do</strong><br />

controlo <strong>do</strong>s novos limites:<br />

Notre époque se singularise en effet par des dispositifs frontaliers <strong>do</strong>tés de<br />

mécanismes de contrôle et de surveillance de plus en plus élaborés, et par<br />

l’édification de barrières physiques, murs et enceintes, qui visent l’étanchéité<br />

absolue de la séparation. (Bennafla e Peraldi, 2008)<br />

Independentemente <strong>do</strong> contexto, os discursos oficiais visam de facto construir a<br />

representação de uma fronteira estanque, controlada por meios de alta tecnologia,<br />

separação perfeita entre nós e os outros, estes sempre conota<strong>do</strong>s de mo<strong>do</strong> negativo (o<br />

imigrante ilegal, o bandi<strong>do</strong>, a prostituta, etc.). No entanto, vários estu<strong>do</strong>s apontam para a<br />

discrepância entre o discurso e as práticas observadas in loco. Esta situação manifestava-se<br />

claramente na fronteira entre a Áustria e a República Checa até 2007 (data da entrada deste<br />

último Esta<strong>do</strong> no espaço Schengen), onde a primeira afirmava, nos seus discursos oficiais,<br />

controlar os fluxos da imigração ilegal graças à presença <strong>do</strong> exército assim como de<br />

aparelhos de alta tecnologia. Porém, um estu<strong>do</strong> empírico da fronteira como fenómeno<br />

revelou práticas onde o aleatório, o acaso, o contexto desempenhavam um papel central<br />

(Darley, 2008). Os controlos eram efetua<strong>do</strong>s de maneira mais ou menos estrita em função<br />

<strong>do</strong> momento (de dia ou de noite), da nacionalidade da pessoa controlada, <strong>do</strong> sexo desta, <strong>do</strong><br />

polícia em função, etc., ou seja, em função de uma série de elementos que tornavam a<br />

fronteira um lugar menos estanque <strong>do</strong> que o afirmava o discurso oficial, o que leva a autora<br />

<strong>do</strong> estu<strong>do</strong> a concluir: «Il semble que la situation géographique à la marge des espaces<br />

frontaliers autorise leurs acteurs à se distancier des représentations centrales de la frontière<br />

comme lieu du contrôle mécanique et figé […]» (Darley, 2008).<br />

Portanto, mesmo alvo de uma transformação física (a edificação de muros e de<br />

mira<strong>do</strong>uros) e sujeita a sistemas panópticos de vigia, a fronteira continua um lugar<br />

dinâmico onde se desenvolvem práticas intrínsecas à sua condição de limite (limites entre<br />

Esta<strong>do</strong>s, mas também entre o legal e o ilegal, o lícito e o ilícito…). Dois exemplos bastarão<br />

para ilustrar este ponto. O primeiro aponta para o pragmatismo e adaptabilidade das<br />

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