24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

INTRODUÇÃO<br />

O conceito de Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong> presente no título da minha dissertação, e das<br />

interrogaçoes a ele associadas, emerge da leitura das obras <strong>do</strong> corpus literário sob análise<br />

nesta tese, bem como da literatura crítica que utilizo. 1 Uma análise mesmo que superficial<br />

de alguns textos - romances, peças de teatro, contos - revela que o Esta<strong>do</strong> em questão<br />

surge sobretu<strong>do</strong> através de algumas das suas componentes (forças de segurança,<br />

presidente-dita<strong>do</strong>r, parti<strong>do</strong> único…) que apontam metonimicamente para a sua presença.<br />

Uma abordagem empírica depara-se pois com um conceito que se pode entender como<br />

globalidade ou como fenómeno somente apreensível através das suas manifestações. A<br />

própria ciência política na sua análise ao Esta<strong>do</strong> tem oscila<strong>do</strong>, numa tensão nunca resolvida<br />

totalmente, entre ambas as conceções: necessita <strong>do</strong> conceito global como objeto de estu<strong>do</strong>,<br />

mas geralmente só o apreende através de algumas das suas manifestações (Linhardt e<br />

Moreau De Bellaing, 2005). Parece portanto tratar-se da representação de um fenómeno<br />

homogéneo encara<strong>do</strong> como globalidade.<br />

O Esta<strong>do</strong> que atravessa os textos <strong>do</strong> meu corpus emerge como fenómeno dinâmico<br />

que se revela ou reifica pelo recurso a agentes diversos, <strong>do</strong> solda<strong>do</strong> ao dita<strong>do</strong>r, <strong>do</strong> la<strong>do</strong><br />

opressor, <strong>do</strong> funcionário à criança de rua, <strong>do</strong> la<strong>do</strong> oprimi<strong>do</strong>, com figuras intermédias como<br />

o próprio funcionário, ou ainda o solda<strong>do</strong> desmobiliza<strong>do</strong> que pode oscilar entre a posição<br />

de agente opressor e a de agente oprimi<strong>do</strong>. É este Esta<strong>do</strong> que tem si<strong>do</strong> alvo das mais<br />

variadas interpretações, desde as mais conserva<strong>do</strong>ras que reproduzem a <strong>do</strong>xa <strong>colonial</strong> sobre<br />

a incapacidade <strong>do</strong>s Africanos em organizar e gerir o Esta<strong>do</strong> – o que tem como corolário a<br />

premência num certo discurso <strong>do</strong> conceito de Esta<strong>do</strong> falha<strong>do</strong> –, até às mais matizadas que<br />

têm em conta a multiplicidade de fatores que explicam as suas características: origens<br />

coloniais, neo<strong>colonial</strong>ismo, dependência organizada e promovida a partir <strong>do</strong> Norte, lugar<br />

ocupa<strong>do</strong> no sistema-mun<strong>do</strong>.<br />

1 Eis o que constata, por exemplo, um <strong>do</strong>s historia<strong>do</strong>res das literaturas africanas de língua francesa: «Il faut<br />

bien admettre que la représentation du pouvoir, de ceux qui l’incarnent comme de ceux qui le combattent et<br />

ses modes de fonctionnement, occupe dans la littérature contemporaine une place prépondérante.» (Chevrier,<br />

2006: 87).<br />

1

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!