24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

organização alternativa de Esta<strong>do</strong>, Traoré constata a presença de um outro centro, mais<br />

remoto ainda <strong>do</strong> que o primeiro: «La mise à mort de l’État-nation que nous pouvions<br />

transformer de l’intérieur, se fait au profit d’un exécutif supranational aussi centralisateur,<br />

aussi arbitraire et aussi prédateur que lui.» (Traoré, 1999: 81)<br />

Nos livros seguintes, Traoré parece cada vez mais convencida da violência real e<br />

simbólica <strong>do</strong> neoliberalismo, cada vez mais persuadida de que as consequências <strong>do</strong>s<br />

Programas de Ajustamento Estrutural são as mesmas independentemente <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

considera<strong>do</strong>, pois o inimigo é constante, claramente identifica<strong>do</strong>:<br />

Il est, en somme, grand temps que la mondialisation néolibérale soit lue, interprétée<br />

et traitée comme le rouleau compresseur qui broie l’espoir et les vies humaines en<br />

Afrique. Quant aux acquis politiques – droit de vote, d’association et d’expression<br />

–, si l’on souhaite qu’ils soient une réponse à la paupérisation et à la détresse, ils<br />

<strong>do</strong>ivent prendre en charge les enjeux et les mécanismes de la mondialisation<br />

néolibérale. Ce qui est vrai pour le Mali l’est, dans une large mesure, pour les autres<br />

pays africains. (Traoré, 2002: 157)<br />

A grande originalidade de Traoré reside então, à semelhança de Pureza e de<br />

Niemann, na estreita articulação entre a crise <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong> e os Programas de<br />

Ajustamento Estrutural, a primeira sen<strong>do</strong> uma clara consequência <strong>do</strong>s segun<strong>do</strong>s e não o<br />

contrário. Como se vê, neste ponto, o Texto erra em atribuir a culpa <strong>do</strong> «fracasso» <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> a supostos comportamentos atávicos. A vantagem das leituras contra-hegemónicas,<br />

além de ajudarem a desconstruir a ideologia subjacente ao Texto, reside numa interpretação<br />

manifestamente mais matizada das disfunções <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>. Com Traoré, a<br />

corrupção, por exemplo, não antecede o suposto fracasso <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>:<br />

Le dépérissement de l’État, sur cette base, coûte extrêmement cher au plan<br />

économique, social et moral, aux travailleurs. Ceux-ci assistent en même temps à la<br />

raréfaction de l’emploi et à l’érosion de leur pouvoir d’achat alors qu’ils <strong>do</strong>ivent<br />

faire face à leurs rôles sociaux et familiaux de pères, de mères, de fils, de filles… Ils<br />

ont alors recours à des stratégies de survie (<strong>do</strong>uble journée de travail, malversations,<br />

clientélisme politique) <strong>do</strong>nt la plupart d’entre eux auraient pu et voulu faire<br />

l’économie. (Traoré, 1999: 83) 130<br />

130 Tahar ben Jelloun (Marrocos, 1944) foi um <strong>do</strong>s escritores que conseguiu «traduzir» com os recursos<br />

próprios da representação literária o que leva à transformação de um funcionário honesto em funcionário<br />

corrupto. Como o assinala no decorrer <strong>do</strong> romance L’Homme Rompu (1994), a corrupção não é uma<br />

especialidade africana, mas explica-se, tanto em Marrocos como na Itália, pelas condições sociais e políticas<br />

139

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!