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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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entendi<strong>do</strong> como mega-estrutura que <strong>do</strong>mina as personagens. No capítulo dedica<strong>do</strong> ao<br />

Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>, insisti na relação de consecução que liga Esta<strong>do</strong> <strong>colonial</strong> e Esta<strong>do</strong><br />

pós-<strong>colonial</strong>, este recuperan<strong>do</strong> parte <strong>do</strong> aparato e <strong>do</strong> aparelho <strong>do</strong> primeiro. Com os<br />

recursos <strong>do</strong> teatro, Nkashama, tal como Tansi, evidencia ao longo da peça a estreita ligação<br />

entre ambos.<br />

Não será por acaso então que grande parte <strong>do</strong>s comenta<strong>do</strong>res da obra de<br />

Nkashama aponta, por um la<strong>do</strong>, para a presença <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong> enquanto origem<br />

da violência e <strong>do</strong> terror e, por outro, para o Esta<strong>do</strong> <strong>colonial</strong> como matriz deste. Gilbert<br />

Doho, por exemplo, sublinha, no início de um ensaio sobre o teatro de Nkashama, a<br />

estreita articulação entre ambos. À semelhança <strong>do</strong> que descrevem historia<strong>do</strong>res e<br />

geopolitólogos (Capítulo III), lembra que o que a França instituiu nas suas colónias –<br />

mutatis mutandis dir-se-ia o mesmo da Bélgica e de Portugal – não foi um Esta<strong>do</strong> de direito,<br />

mas antes um regime de vigilância permanente e de coerção física. Invoca Foucault a este<br />

propósito:<br />

Surveiller et punir l’indigène participe de l’ordre militaire on ne peut plus oppressif.<br />

Univers carcéraux, la colonie et la néo-colonie recourent à ce que Foucault<br />

appellerait dans ce cas ‘l’éclat du supplice’ pour psychologiquement contrôler les<br />

masses et les in<strong>do</strong>ciles […]. (Doho, 2007: 115)<br />

O Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong> representa<strong>do</strong> por Nkashama retomou algumas das táticas <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> <strong>colonial</strong>: reagrupar os venci<strong>do</strong>s em aldeias, obrigá-los a pagar o imposto e impor<br />

um chefe oriun<strong>do</strong> de uma suposta «tradição». O Esta<strong>do</strong> em questão não se vê em cena,<br />

permanecen<strong>do</strong> longínquo e abstrato enquanto fenómeno global. Apenas é visível a sua<br />

principal manifestação: as forças de segurança. O próprio Oficial dirá: «Nous appliquons<br />

les ordres qui ont été décrétés très loin dans la hiérarchie» (I, V). Nkashama aproxima-se<br />

assim da postura <strong>do</strong>s estudiosos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> que defendem que este nunca pode ser<br />

apreendi<strong>do</strong>, a não ser através das suas atualizações concretas (forças de segurança, regras,<br />

leis, ministros, formulários…), ou seja, que o Esta<strong>do</strong> existe algures entre entidade abstrata e<br />

conjunto de atualizações que o constituem em fenómeno dinâmico (Linhardt e Moreau De<br />

Bellaing, 2005: 269-298).<br />

Entre as ordens de que fala o Oficial, consta a de proteger o potenta<strong>do</strong> local<br />

nomea<strong>do</strong> pela autoridade central. À semelhança <strong>do</strong> coloniza<strong>do</strong>r, o Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong><br />

recorre à tradição quan<strong>do</strong> esta lhe é útil, tal como se depreende das palavras <strong>do</strong> Oficial:<br />

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