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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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Além disso, tanto no teatro de Tansi e de Nkashama como nos romances <strong>do</strong><br />

primeiro e de Pepetela, estas representações <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong> parecem recorrer ao<br />

trágico para o transformar em superstrutura na qual se origina a desgraça de algumas<br />

personagens. Daí a hipótese principal deste trabalho: a possibilidade de interpretar numa<br />

perspetiva comparada os mo<strong>do</strong>s de representação <strong>do</strong> trágico <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>.<br />

A partir deste ponto de vista, o lugar de interpretação desloca-se, afasta-se <strong>do</strong> local<br />

em direção à “fronteira”, onde poderá ser objeto de uma operação de “tradução”. Como<br />

em qualquer operação translatória, algo de que o original significava localmente poderá<br />

perder-se, mas em contrapartida novos significa<strong>do</strong>s, novas redes insuspeitas de senti<strong>do</strong>s<br />

também poderão emergir. Não se trata aqui de escolher uma das leituras possíveis de um<br />

texto literário em detrimento de outras, mas, pelo contrário, de entender que esta tensão<br />

entre o local e a fronteira é própria da atividade crítica. Como apontava Inocência Mata<br />

relativamente às literaturas africanas de língua portuguesa (2006), o mais importante nesta<br />

deslocação consiste em não perder de vista as características próprias de cada sistema<br />

literário, as suas histórias e trajetórias sem contu<strong>do</strong> esquecer o que há de comum, num jogo<br />

de tensão assumi<strong>do</strong>. Eis a consequência para quem se debruça sobre o que se escreve nas<br />

Áfricas: «é possível uma abordagem conjunta e generalizante, não homogeneizante» (Mata,<br />

2006: 339).<br />

Preten<strong>do</strong> tornar claro ao longo desta dissertação em que medida a maior parte <strong>do</strong>s<br />

textos <strong>do</strong> corpus significam localmente, mas rapidamente migram para a “fronteira”, onde<br />

dizem algo de fundamental não sobre o ser congolês ou angolano, mas simplesmente sobre<br />

o ser humano. Por outras palavras, os desgraça<strong>do</strong>s ou condena<strong>do</strong>s, personagens trágicas<br />

nas obras analisadas, comovem o leitor à distância porque algo no seu sofrimento é antes<br />

de mais humano.<br />

Neste aspeto, os três autores parecem pertencer à «Literatura-mun<strong>do</strong>», na qual se<br />

reveem muitos escritores das Antilhas e das Áfricas (recorrerei a vários textos incluí<strong>do</strong>s no<br />

livro-programa: Pour une littérature-monde organiza<strong>do</strong> por Michel Le Bris e Jean Rouaud,<br />

publica<strong>do</strong> em 2007), ou seja, pertencem a uma literatura que, embora nalguns casos<br />

enraizada num contexto concreto, fala <strong>do</strong> ser humano, <strong>do</strong>s seus problemas fundamentais,<br />

circula, viaja e, ao fazê-lo, enfraquece a realidade das fronteiras nacionais na literatura.<br />

Mesmo um Pepetela, que não para de encenar a história de Angola, de mapear tanto o<br />

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