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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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vise à rompre avec la prétention de nombreuses religions traditionnelles à dramatiser la<br />

destinée du défunt». Ter-se-á nota<strong>do</strong> o uso problemático <strong>do</strong> conceito, pois, se a associação<br />

<strong>do</strong> trágico à tomada de consciência da natureza da condição humana se insere numa longa<br />

tradição, torna-se difícil entender em que medida a profusão de novos rituais seria em si<br />

trágica. Isto ilustra bem uma aporia recorrente no uso <strong>do</strong> trágico pelo senso comum: se,<br />

por um la<strong>do</strong>, possui a intuição mais ou menos clara de que o conceito tem a ver com<br />

questões relativas à morte, ao sofrimento, por vezes associa-o a contextos ou a situações<br />

pouco ou nada pertinentes.<br />

O que revela esta profusão de exemplos é a riqueza e a polissemia de «trágico» e de<br />

«tragédia» num certo senso comum, pois, consoante os contextos, as duas palavras<br />

designam tanto a condição trágica <strong>do</strong> ser humano, como um “efeito de sintaxe”, a(s)<br />

origen(s) <strong>do</strong> mal, um acontecimento funesto e as suas consequências, como, claro, uma<br />

prática literária. O trágico, para o senso comum, é ainda associa<strong>do</strong> a algo de terrível, de<br />

repentinamente terrível, de fora <strong>do</strong> comum. Dito de maneira mais prosaica, no senso<br />

comum dificilmente se falaria da morte trágica de um i<strong>do</strong>so de 95 anos ou <strong>do</strong><br />

desmoronamento trágico de um prédio sem vítimas mortais. Em vários momentos, vimos<br />

também como o senso comum associa o conceito a uma reflexão sobre as origens da<br />

desgraça, <strong>do</strong> sofrimento, da queda de seres humanos. Em parte, é neste ponto que veremos<br />

uma clara articulação entre senso comum e senti<strong>do</strong> filosófico relativamente ao significa<strong>do</strong><br />

de trágico.<br />

IV.3. O TRÁGICO COMO CATEGORIA FILOSÓFICA<br />

Mais uma vez, não se trata de valorizar uma das vias de acesso ao trágico. Estas,<br />

como veremos, coexistem, nutrem-se, interligam-se, mesmo que não o admitam. Em<br />

função <strong>do</strong>s textos estuda<strong>do</strong>s, da intenção <strong>do</strong> investiga<strong>do</strong>r, poder-se-á certamente privilegiar<br />

uma ou outra abordagem. A minha perspetiva continua a ser filológica: numa perspetiva<br />

sincrónica, mostrar a diversidade de significa<strong>do</strong>s de um conceito num momento<br />

determina<strong>do</strong>, o que não impede, como será aqui o caso, o recurso a alguns saltos<br />

diacrónicos. Insisto desde já na pertinência desta leitura <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> filosófico da palavra<br />

através de filósofos ocidentais para o meu objeto de estu<strong>do</strong>. Pois encontraremos, por<br />

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